CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "Mas História pra quê?", texto de Graziela Armelao Jácome Rosa
MAS HISTÓRIA PRA QUÊ?
GRAZIELA ARMELAO JÁCOME ROSA
Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 11. Patrono: Gilberto Madeira Peixoto
Cadeira 11. Patrono: Gilberto Madeira Peixoto
Nesse instante de incertezas
presenciais, virtuais, coronais — aliás, para quem vai a coroa ou o cetro? —,
retorno a preocupação para a memória, por bem dizer memória histórica, que, se
estendida for, faz fenômeno com o denominado patrimônio cultural, fenômeno
materializado em paredes, cruzes, altares, cores, penduricalhos, e que contam
histórias imaterializadas em lembranças, sons, rezas, amores, garantindo o ir e
vir daquilo de que um povo realmente necessita a fim de se expressar — sem
pressa — e ser aquilo que é, história de si mesmo!
A história de um povo somente pode
contar daquilo que ele é, em nosso caso de nossa mineiridade, se houver
memória, muitas delas. A questão da memória e mesmo de sua tangibilidade
através dos denominados bens concretizados no patrimônio histórico tem, ainda,
uma discussão recente no olhar historiográfico mineiro. Pode-se até pensar que
esse caminho era percorrido somente por arquitetos e no máximo antropólogos,
cientistas sociais. Todavia, é preciso estimular alunos de diversas esferas
educacionais nesse olhar patrimonial, histórico, cultural, memorial, pois
através dele formar-se-á uma identidade social interessada em produzir sua real
e digna História. Aliás, é bem esse um dos papeis da escola.
Diante disso, propõe-se que sejam cada
vez mais estimuladas as lembranças a serem contadas aos alunos, parte que muito
interessa a minha pessoa, histórias de construção de uma memória plural,
contando os cotidianos e intercorrências a partir dos chamados vencedores, bem
como dos perdedores, afinal, nossas histórias mineiras são de heróis e vilões!
Histórias de Sobrados e casebres, de casas-grandes e senzalas, de homens e de
mulheres, de homens ameríndios, brancos e "negros como a noite",
diria o poeta Castro Alves. Fato é que o que se pretende é construir uma
história de memória plural, com todos os seus plurais!
Dito isso, tem-se que, por conseguinte,
a memória histórica constitui-se como uma das configurações mais sutis e
potentes de legitimar um poder a fim de o colocar a dominar, daí o ocupar-se
constante em construir com os alunos a noção de identidade, de cultura plural.
Ora, os alunos memoriados, por assim dizer, interessar-se-ão pela preservação
de sua identidade cultural, composta por suas memórias individuais e coletivas.
Aprontar-se-ão para construção do seu ethos cultural, e por conseguinte
de sua cidadania.
Diante do ethos cultural,
apontar-se-á uma vez mais para a memória, e será clara a percepção de que ela é
expressão e prática fulcral na construção da cidadania cultural mineira, em
nosso caso! Não fosse a memória, como seriam percebidas as facetas e
fisionomias da cidade, bem como seus sons repetidos em seus badalares
constantes e matemáticos de sinos? A impercepção da cidade levaria todos a uma
sensação de forasteiros em seu próprio sítio, e o que se pretende é se ver e
ver a todos, como exercício de expansão real de vida, e vida somente o é e tem
aquele que possui memória de si e do entorno.
Esse texto marcha a favor de lembrar quão
necessário é memorizar a História como fonte que espelha o que somos e fazemos,
pois, diante das lembranças do passado, não somente precedemos vivências como
também avistamos o nascedouro referencial para o futuro. Bem, parece, então,
que o caminho somente o é no compartilhar entre passado-presente-futuro.
Um dos caminhos possíveis para tal
história de memória parece ser o de educar através da inclusão. Todavia, será
necessário na medida das identidades culturais, e isso pode ser exercitado a
partir da "Educação Patrimonial", que não é mais que voltar as
práticas para o patrimônio, incluindo olhares de identidade e cidadania a
partir de conteúdos inter, multi e transdisciplinares que levem os alunos (e
todos, na verdade) a se implicarem em questões de sua história de memória plural.
Momento que em prática envolverá as fisiologias e imagens das cidades a partir
de sua história, suas memórias, seus museus, seus contares de "causos",
deslizar de seus rios, ora preguiçosos ora bravios, seus anjos rotos e
barrocos, seus casarios adobe, choupana ou pau-a-pique, suas ruas tortas e sem
meio-fio, suas pedras roliças e roladas, suas fontes e nevoeiros, e seu “ao pó
retornarás”.
Por fim, que se construa no imaginário
e diário dos alunos o verdadeiro direito à memória reformulando as relações
entre a educação formal e a preservação, apontando a diversidade como caminho
de saída e de chegada na formação histórica de todos, a fim de que a memória
seja o alfa, a aurora da construção de uma sociedade mais igualitária, plural e
digna, onde nascer seja berço de honra e dignidade ao se contar a nossa
história. E tem gente que ainda me pergunta, mas História pra quê?
Porfª. É isso mesmo. Se não tivermos memória, se não nos envolvermos com nossa história, não nos entenderemos, perdemos as referências do que somos. Parabéns pelo excelente artigo! Ótimo para despertar em todos a busca por sua origem... Gde. Abraço. Ana Guerra
ResponderExcluirMuito objetivo seu texto Prof. Graziela Ótimo. É por ai mesmo.
ResponderExcluirBrilhante!
ResponderExcluirAté minha alma vibrou com este texto. Brilhante
ResponderExcluirParabéns pelas sábias palavras.
ResponderExcluirComo é bom ver que os dias difíceis não tiraram a sensibilidade do olhar de todos nós. Mais do que nos apressarmos em apontar um rumo ao que se espera do futuro, se faz necessário, muito antes, um olhar para trás, para a nossa memoria. Obrigado por essa reflexão inspiradora. Parabéns pelo belo texto.
ResponderExcluirTexto riquissimo, perpassado pela leveza e sensibilidade, que traduz uma das dimensões de construção da identidade, confirmando-nos como seres históricos, capazes de olhar o passado, aprender as lições no presente e projetar-se no futuro com mais certezas cidadãs. Parabéns!!! Gratidão.
ResponderExcluirParabéns!!!
ResponderExcluirHistória no Ontem, no Hoje e no Amanhã é Tudo de Bom.
Vidas contadas em História.
Sonhos contados em História.
Poemas contados em História.
Almas e Prosas contadas em História.
Enfim,é a História contada em História sempre e eternamente pra glória da História.
Palavras riquíssimas. Leva- me a pensar sobre a busca do conhecimento de mim mesmo. Sem dúvida, para se alcançar o autoconhecimento é necessário abraçar a minha História, raízes e cultura. Obrigado, Prof Graziela, por compartilhar essa singular reflexão.
ResponderExcluirBravo! Talvez seja esse o grande vácuo do ser humano. A falta de memória em todas as suas nuances. Quem não valoriza sua memória desrespeita a si mesmo não conquista o respeito de outrem. Lindeza de texto. Parabéns!- silas
ResponderExcluirBrilhante texto. parabéns
ResponderExcluir"Educação Patrimonial"inquestionável, um fato! Imperativa a sua realização!
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