Especial: "Helena, de Machado de Assis", de Mirtes Chagas e Souza

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 24. Patrono: Pedro Lúcio Pereira

HELENA, DE MACHADO DE ASSIS

[Este texto pode conter spoilers da trama]

Machado de Assis apresenta em Helena uma narrativa envolvente que mistura drama, romance e crítica social. 

A trama começa com um mistério: a leitura do testamento do Conselheiro Vale, que surpreende a todos ao revelar a existência de Helena, sua filha ilegítima, e determinar que ela passe a viver com sua família legítima.

Essa revelação muda o curso da vida da moça, pois ela é acolhida pela família de Estácio, seu meio-irmão, família esta que a princípio a recebe com desconfiança. O livro explora o impacto da chegada de Helena ao cotidiano da família e os desafios enfrentados por ela ao tentar se adaptar a um novo ambiente social.  

O romance destaca a força e o carisma da protagonista, que conquista a todos com sua personalidade vibrante e integridade moral. Um aspecto especial da narrativa é a construção dos personagens, especialmente a de Estácio. Apesar de sua humanidade e bom caráter, Estácio se mostra um homem frágil e de pouca iniciativa. Ele frequentemente hesita diante das decisões mais importantes, deixando-se levar pela opinião de terceiros, como sua tia, Dona Úrsula. A fragilidade de Estácio ressalta os dilemas de um homem que, apesar de bem-intencionado, é incapaz de agir com firmeza.

E essa falta de firmeza contrasta com a força de Helena, cuja personalidade vibrante e altruísmo dominam a história. A convivência com a moça leva Estácio a experimentar sentimentos conflituosos, agravados por sua dificuldade em tomar as rédeas de sua própria vida.   

Uma imagem marcante e intrigante que aparece ao longo da narrativa é a bandeira azul, um recurso que Machado utiliza para aguçar a curiosidade do leitor. Essa bandeira, que surge como parte de uma memória de Helena, simboliza tanto os segredos que a personagem guarda quanto o contraste entre suas origens humildes e a sofisticação de sua nova vida. O leitor é convidado a desvendar, junto com os personagens, o mistério por trás dessa lembrança enigmática. Helena carrega um segredo que transforma a relação com Estácio em algo mais complexo e cheio de nuances — questões de honra, moralidade, diferenças sociais e os costumes da época, apresentando um retrato sensível e, ao mesmo tempo, crítico da sociedade brasileira.  

Helena é uma obra que combina sensibilidade, mistério e crítica social, atentando para as complexidades das relações humanas. A leitura provoca reflexões sobre identidade e sacrifício, culminando em um desfecho emocionante e, de certo modo, trágico.

Este terceiro romance de Machado de Assis nos deixa refletindo sobre o papel das convenções sociais e os sacrifícios feitos em nome do amor, da honra e dos costumes sociais.

Mirtes Chagas e Souza

@mirteschagasdesouza

 

Helena é o quarto livro de Machado de Assis lido pelo Grupo de Leitura Machado de Assis, que pretende ler toda a obra longa do mestre. O grupo é organizado e moderado pelo escritor e professor Bernardo Lopes, Presidente da Academia de Ciências e Letras de Sabará, que apoia o projeto junto à Prefeitura Municipal de Sabará. No primeiro semestre de 2025, leremos juntos o romance Iaiá Garcia, de Machado de Assis. Acompanhe nossa página do Instagram para o anúncio das datas! É Grupo de Leitura é gratuito e seus encontros são semanais e presenciais.

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