Especial: "Helena: de Cúmplice a Vítima", de Rogéria Guimarães Bueno

Professora de Educação Física, Estilista de Calçados e Bolsas, Amante das Artes e Literatura, e Participante do Grupo de Leitura Machado de Assis  

HELENA: DE CÚMPLICE A VÍTIMA

[Este texto pode conter spoilers da trama]

Revisitar o livro Helena, de Machado de Assis, deixou-me muito animada e feliz. Em minha memória, o meu favorito do autor. Pode ser que isso mude com a leitura das próximas obras.

Afinal, os livros são os mesmos, mas eu sou outra.

Helena é surpreendente por tratar de um assunto tabu: o incesto. Ou uma suposta relação incestuosa entre meios-irmãos.

 Até que se prove o contrário, muito suspense, muito julgamento e sofrimento.

Cúmplice de uma mentira contada por sua mãe, Ângela, a seu então “padrasto”, o Conselheiro Vale, e, por último, ratificada por insistência e conveniência de Salvador, seu pai biológico, a protagonista se vê num beco sem saída e vítima dessa mesma farsa.

Se eu pudesse, lhe mandaria uma carta dando meus pitacos:

 

Carta a Helena:

 

Cara Helena,

Sei que guarda um segredo inconfessável que lhe trará novos segredos inconfessáveis!

O Conselheiro Vale reconheceu-a como filha, em testamento, para lhe assegurar o futuro, mas a realidade que veio a suceder foi bem outra. Escapou-lhe dos dedos!

Desde que você chegou à casa de sua nova-suposta-família, não fez outra coisa senão querer agradar, agradar, agradar. Talvez para não levantar suspeitas, talvez para receber compaixão de todos, caso fosse a mentira descoberta… ou, como fazem as pessoas nos dias de hoje, seria talvez para receber curtidas no seu Instagram.

De que são feitos seus sonhos? Fantasias? Lembranças? Mentiras sinceras?

Seu amor por Estácio foi recíproco desde o começo, e não há nada mais poderoso que um amor correspondido.

Não sustente essa mentira!

Se seu passado te espreita e te condena, seu futuro é inventado! Não caia nessa!

Reflita: a sociedade perdoa a mentira, mas não perdoa uma relação supostamente incestuosa. Seria um amor envergonhado! Só que não! Vocês não têm parentesco algum!

Confesse! Confesse, Helena! Conte a verdade e salve seu amor por Estácio!

Vocês já não se aguentam de tanta paixão.

Mande essa Eugênia mimada ir catar cavaco!

Apresente Salvador, seu pai biológico, à tia Úrsula — quem sabe eles se entendem? Se desfaça do nó!

Nenhuma mansão ou castelo valem o fracasso de um amor sincero!

Desobedeça a vontade de seus dois pais, não aceite o equívoco em que ambos a vieram colocar! Altere o fato! Case-se com Estácio!

Não lhe faltarão amor nem dinheiro!

Helena, Helena!

Acorde deste pesadelo!

Dane-se o Dr. Camargo! Como todo interesseiro, merece esse remédio amargo...

Entregue seu amor a Estácio, e o tempo se encarregará de acalmar os ânimos.

Não morra!

A Sociedade carioca do século XIX não merece esse sacrifício.

Pode acreditar, no futuro, no século XXI, onde me encontro, as mulheres morrem por feminicídio, câncer de mama, acidentes vasculares, acidentes de trânsito, e outras causas… mas nunca por vergonha.

 Os tempos são outros!

 

Um abraço

 

Rogéria

Rogéria Guimarães Bueno
Professora de Educação Física, Estilista de Calçados e Bolsas, Amante das Artes e Literatura, e Participante do Grupo de Leitura Machado de Assis

@rsgbueno

Helena é o quarto livro de Machado de Assis lido pelo Grupo de Leitura Machado de Assis, que pretende ler toda a obra longa do mestre. O grupo é organizado e moderado pelo escritor e professor Bernardo Lopes, Presidente da Academia de Ciências e Letras de Sabará, que apoia o projeto junto à Prefeitura Municipal de Sabará. No primeiro semestre de 2025, leremos juntos o romance Iaiá Garcia, de Machado de Assis. Acompanhe nossa página do Instagram para o anúncio das datas! É Grupo de Leitura é gratuito e seus encontros são semanais e presenciais.

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