"Entre o amor e as máscaras", de Ana Maria Guerra Machado
Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 8. Patrono: Benedito Machado Homem
ENTRE O AMOR E AS MÁSCARAS
Um dos melhores momentos que vivo, atualmente, são as horas que passo no grupo de leitura de Machado de Assis, coordenado pelo escritor Bernardo E. Lopes, presidente da Academia de Ciências e Letras de Sabará.
Conhecer a escrita brilhante de Machado de Assis é mais uma fonte incrível de saber, que nunca se esgota. A cada semestre, temos discutido um dos livros do autor brasileiro e, neste segundo semestre de 2024, lemos Helena.
A obra Helena, de Machado de Assis, revela a fragilidade do amor romântico frente às convenções sociais. A história, envolta em segredos e restrições, expõe os limites impostos por uma sociedade que valoriza mais a aparência do que a autenticidade das emoções. Helena e Estácio, personagens que se encontram em um dilema afetivo, são tragados por uma rede de convenções e expectativas sociais que, ao final, destroem suas possibilidades de felicidade.
Esse conflito reflete uma questão atemporal: a hipocrisia social que regula nossas relações. Jean-Jacques Rousseau, em sua teoria do contrato social, argumenta que os indivíduos renunciam a parte de sua liberdade em troca de segurança e ordem. No entanto, essa construção coletiva, que deveria assegurar igualdade, frequentemente se transforma em uma ferramenta de opressão. A sociedade molda comportamentos e estabelece valores que nem sempre condizem com a natureza humana, criando um espaço onde máscaras são essenciais para a convivência.
Helena é um exemplo desse jogo de aparências. Apesar de sua virtude e bondade, sua posição social e o segredo de sua origem tornam-na inadequada aos olhos do mundo. Seu amor por Estácio não é suficiente para romper as barreiras impostas por um sistema que privilegia status e convenções. Esse é o retrato de uma sociedade que, ao longo dos séculos, aprisiona os indivíduos em papéis predefinidos, sufocando desejos e autenticidade.
Rousseau diria que essa imposição social é o preço da civilização. Porém, Machado de Assis nos convida a refletir: até que ponto o contrato social, com todas as suas regras, nos protege ou nos aliena de nossa essência? Seremos eternamente reféns de um pacto que prioriza a hipocrisia em detrimento da liberdade emocional? A tensão entre o indivíduo e a sociedade permanece como um dos grandes desafios humanos, atravessando os séculos e marcando nossos dilemas contemporâneos.
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Querido leitor, assine seus comentários!
Brilhante Ana Maria!... Essa reflexão a partir da leitura e discussão que fizemos é oportuna e enriquecedora! Como você mesmo pontuou, atemporal!
ResponderExcluirChique demais! Que bom saber que os encontros abrilhantaram as mentes e à capacidade de cada um a estar sempre em reflexão perante à sociedade em que vivemos. Virgínia Evangelista
ResponderExcluirGrande Ana Guerra. "Seremos eternamente reféns de um pacto que prioriza a hipocrisia em detrimento da liberdade emocional?" Será? Creio que com o amadurecimento enfrentamos melhor esta sociedade e seus hipócritas. Que felizmente não são todos.
ResponderExcluirLindo texto Ana!
ResponderExcluirConseguiu captar exatamente o que percebemos no grupo de leitura do livro Helena!
Willian Alves
Se considerarmos apenas a predominância de um ou de outro, a distinção pode ser mantida, pois foi feita com o pensamento na integração e na diferenciação. A integração é o conjunto de fatores que tendem a acentuar no indivíduo ou a participação nos valores comuns da sociedade. A diferenciação, ao contrário, é o conjunto dos que tendem a acentuar as peculiaridades, as diferenças existentes em uns e outros. São processos complementares, pode sobreviver equilibrando, à sua maneira e as duas tendências referidas. Porém Machado na sua incrível associação de palavras nos exporta a vivenciar na essência do ser entre o amor e dor. Maria da Penha Orlande.
ResponderExcluirAdorei seu ponto de vista! Parabéns pela nova visão de um romance tão famoso de Machado de Assis.
ResponderExcluirAndréa Ferreira
Seu texto suscitou em mim interrogações que não podem ficar adormecidas. Reflexões que ousam emanar de uma mente tão privilegiada como a sua para nós substâncias com desejos eternos da obra de Machado! Parabéns, Ana!
ResponderExcluirAna! Primeiro,essa foto linda nos remete à amada Raquel!!!
ResponderExcluirE seu texto é irreparável!!! Como me orgulho de ser amiga de uma Mulher, mãe, companheira, profissional sem igual,escritora , cidadã... Parabéns!!! 👏👏👏👏
Mônica Maria
Bela texto Ana Guerra!! Suas palavras refletem sua sensibilidade e inteligência de reflexão, repartir essa percepção é prazeroso para quem lê. Parabéns!!!!
ResponderExcluirDenise.
Análise cirúrgica e profunda, dissecou a toque de bisturi a anatomia do romance Machadiano. Parabéns Ana. Espetacular !
ResponderExcluirParabéns, Ana! Adorei este trecho "A tensão entre o indivíduo e a sociedade permanece como um dos grandes desafios humanos, atravessando os séculos e marcando nossos dilemas contemporâneos."
ResponderExcluirDarsoni
Ana Maria, que texto esplêndido!! Comungo exatamente do mesmo ponto de vista. Quem matou Helena não foi Machado. Quem matou Helena foram as convenções sociais.
ResponderExcluirExatamente como você descreveu: " Helena e Estácio, personagens que se encontram em um dilema afetivo, são tragados por uma rede de convenções e expectativas sociais que, ao final, destroem suas possibilidades de felicidade."
Graças a Deus nossos tempos são um pouco melhores nesse sentido.
Já não precisamos mais de tanta máscara. Cada um pode viver a seu modo o amor como preferir.
Viva a revolucao dos costumes!
Ana Maria, você é sensacional! Realmente, "máscaras são essenciais para a convivência", e isso dá um dó!
ResponderExcluirSuas reflexões me ensinam sempre.
Obrigada.Tem o meu carinho sempre!
Selma
Bela análise de nossas reuniões. Ja estou ansioso para o próximo semestre.
ResponderExcluirAdorei ler a sua análise, Ana! Certamente provoca reflexões. O título foi muito assertivo. Parabéns! Isabella
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