PATRONO: "Improviso", poema de 1830 de Lucas José de Alvarenga

IMPROVISO
poema de 1830

LUCAS JOSÉ DE ALVARENGA
Escritor, poeta, cronista, filósofo e teatrólogo sabarense, autor da primeira novela publicada no Brasil e ex-governador de Macau, China. Patrono da Cadeira 19 da Academia de Ciências e Letras de Sabará, ocupada pela poetisa, cantora e compositora sabarense, especialista em Literatura, Selma Regina Cândido Rossi.


Quando estou co’a minha Armia,

He tal a nossa união;

Que bebemos hum do outro

A mesma respiração.

Eu respiro, ella respira

Em tão doce confusão;

Que juntas ambas parecem

A mesma respiração.

Quando me aperta em seus braços,

He tão forte o apertão;

Que ás vezes até me falta

A mesma respiração.

Unindo o rosto á meu rosto,

O seu ao meu Coração,

Perde os sentidos, e perde

A mesma respiração.

Eu tambem perco os sentidos,

Nem me bate o Coração;

Faltão-me os pulsos, e falta-me

A mesma respiração.

Torno á mim, e pouco á pouco

Vai batendo o Coração;

E vem, vindo de vagar

A mesma respiração.

Recobro novos alentos;

Cheio de gosto inda então

Interrompo com suspiros

A mesma respiração.

Sinto, que electrico fogo

Nos abraza o Coração;

E que á nós ambos anima

A mesma respiração.

Sei, que existe em nossas almas

O mesmo gráo de paixão;

Porque o mostra entre delírios

A mesma respiração.

Quando estou co’a minha Armia,

Estou sempre nesta acção;

Ou perdendo, ou recobrando

A mesma respiração.

Só de pintar os seus mimos

Na minha imaginação;

Tremo, emmudeço, e me falta

A mesma respiração.


ab

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Comentários

  1. Ah! Meu patrono, que honra, que conexão acontecida, não por acaso...

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  2. Selminha,quase dois séculos de distanciamento, mas a sincronicidade de inspiração e sentimento são palpáveis...Glaura

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  3. Nossa que loucura! Quanta musicalidade neste poema! Parece até uma partitura!

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