"Pai, me conta uma história", de Ana Paula Cruz
Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 20. Patrono: Lúcia Machado de Almeida
"Pai, conta uma
história de quando o senhor era menino", disse a filha com os olhinhos a
brilhar.
O pai deu um sorriso
carinhoso e começou...
"Quando eu era menino, eu era pequeno.
Quando eu era pequeno, eu era menino! "
A menininha, como sempre
acontecia, dizia:
"Ah, pai! Não é esta!"
E assim ele contava muitas histórias para a filhinha, algumas vezes repetidas, mas contadas com tanto amor, que fazia com que a menina quisesse que aquele momento se eternizasse.
Eternizou-se!
Hoje, a menininha é uma mulher
madura. E, quando se lembra desses doces momentos de infância ao lado de seu
pai, emociona-se.
Faz uma viagem no tempo e
recorda com toda gratidão os momentos que passou junto ao seu querido pai.
Uma voz sussurra ao seu
ouvido...
"Quando eu era
menino..."
Ela sorri e agradece a Deus!
Muitos fatos marcaram minha infância, mas, até hoje, uma das mais belas recordações que guardo é a do meu pai, contando histórias para mim e a minha irmã Cris.
Ficávamos deitados em sua cama de casal, e ele não se cansava de contar aquelas histórias. “O bode e a onça” era a minha preferida:
A onça resolveu fazer
uma casa pra morar,
ao chegar perto do rio
escolheu um bom lugar,
limpou todo o terreno
foi pra mata descansar.
O bode... que coincidência!
Uma casa quis fazer,
ao passar perto do rio,
num momento de lazer,
viu um terreno limpinho
e pensa: Será aqui o lar
que eu quero ter.”
Muito contente, o bode
cortou depressa as madeiras,
pra adiantar o serviço,
cercou a casa inteira,
como já estava bem tarde,
dormiu embaixo de uma figueira.
No outro dia bem cedo,
a onça chegou animada,
foi continuar a construção,
ficou muito espantada,
a casa estava armadinha,
não faltava quase nada!
Botou janela e porta,
enchimento nas paredes
foi embora bem cansada
descansar na relva verde.
O bode chegou apressado,
pulou no rio pra matar sua sede.
Saciado, observou seu lar,
com janela, porta e até campainha,
ficou tão admirado com tudo aquilo
que agradeceu a Tupã pela “ajudinha”.
Foi depressa tapar com taipa
o telhado da bela casinha.
O bode foi buscar os móveis,
todo alegre e saltitante.
A onça, quando chegou,
ficou toda confiante,
agradeceu a Tupã,
o seu grande ajudante.
O bode, entusiasmado,
voltou com a sua mudança,
para o seu desespero
deu de cara com a onça,
ficaram olhando um pro outro
com ar de desconfiança.
Foi aí que perceberam
o que havia acontecido
“Esta casa é só minha”
disse o bode aborrecido.
“Então vamos morar juntos”,
propõe a onça com ar desiludido.
E assim foi algum tempo,
Cada um se respeitava,
Mas... de medo ficavam tremendo!
À noite, o bode espirrava
na parede dava cabeçadas.
E a onça ? Com fome rugia.
Então a onça saiu pra caçar,
voltou com um cabrito morto,
pediu pro amigo preparar.
foi aquele desconforto,
o bode limpando a caça
e observando a amiga com “olho torto”.
Chegou a vez do bode
que saiu para caçar,
encontrou uma onça morta,
Que sorte... carregou-a até o lar.
A onça ficou assustada
não podia acreditar.
Nesta noite, ninguém dormiu,
a confusão estava armada,
o bode, pra lá e pra cá, sem querer
na madeira deu uma cabeçada,
a onça tomou um susto
pra se defender deu uma urrada.
Assustados, saíram correndo,
pela madrugada afora,
correram tanto, loucamente,
até o despertar da aurora,
tem muita gente que conta...
que estão correndo até agora.
Muitas vezes, fazíamos teatro de sombras no cômodo escuro, tendo como luz as frestas da janela de madeira do quarto onde meus pais dormiam. Bons tempos!
Cresci. Mas em mim permaneceu o gosto pelas histórias e a vontade de contá-las, principalmente para as crianças, que hoje, infelizmente, com a correria do dia-a-dia, quase não têm tempo para ficar com os seus pais e muito menos para ouvir essas histórias gostosas que nos tornam mais humanos e felizes.
Nós, adultos, também merecemos relembrar tudo isso e sentir de volta aquele gostinho tão bom da infância.
Para meu querido pai, Ilton Gomes, um exemplo de vida e amor. Obrigada por ter me apresentado este mundo encantado!
Te amo!
~
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Parabéns pela bela homenagem! 👏 Eu também pude ouvir muitas histórias e trago o gosto de conta-las!
ResponderExcluir❣️❣️❣️🤲🤲🤲🤲👏👏👏
ResponderExcluirLinda sua homenagem., eu infelizmente não tive prazer em ouvir histórias que meu pai me contasse,pois quando morreu eu tinha só 5 anos e não lembro muito dele . Só me resta fotos e poucas lembranças dele .
ResponderExcluirQue lindo texto! Esses encantamentos não podem acabar!
ResponderExcluirParabéns, você tem uma leveza muito especial em sua forma de escrever!
Que venham muitas histórias! Bjs
Que homenagem linda sempre ouvi você contar que seu pai contava histórias para vocês não tive este previlegio de meu pai me contar pois perdi ele muito nova mas minha mãe sempre nos incentivou a ler e ouvir belas histórias que tenho gravadas até hoje na memória parabéns Ana você é show
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho Ana, grande homenagem à seu pai, realmente são lembranças inesquecíveis. Eu ao ler sua história pude criar um o cenário na cabeça, e conseguir também fazer uma viagem de volta a minha infância e lembrar de momentos parecidos ao lado do meu pai, e da minha avó. Obrigada e mais uma vez, parabéns.
ResponderExcluirLinda história. Parabéns, como sempre vc arrasa.
ResponderExcluirQue lindo Ana!!! Que delícia!!! Me deu vontade de mudar meu texto e homenagear meu pai, que faz aniversário este mês!! Parabéns pela delicadeza e amor ao seu!!! Bjs. Cacau
ResponderExcluirQue linda história! Fiquei aqui me deliciando com este conto maravilhoso! Parabéns!
ResponderExcluirQue lindo Ana! Nos transportou com certeza a nossa infância e a beleza que era imaginar as histórias! Longe das atuais computações gráficas que nem se compara com os nossos pensamentos de quando ouvíamos as histórias!
ResponderExcluirViva a nossa imaginação!!!
Que lindo texto! Recordações, histórias, família e encontros...momentos que transformam e constroem o nosso afeto.
ResponderExcluirDarsoni
Belíssimas e sensíveis palavras, Ana. Olhares singulares de quem faz da infância a moradia da esperança. Parabéns!
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