"Eu lhe desejo vida longa", de Ana Maria Guerra Machado

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 8. Patrono: Benedito Machado Homem


EU LHE DESEJO VIDA LONGA


Sabará comemorou, no último dia 2 de julho, os 80 anos da Biblioteca Pública Prof. Joaquim Sepúlveda (patrono de uma de nossas cadeiras). No livro Nas Ruas de Sabará, a historiadora Maria de Lourdes Guerra Machado nos conta que, desde os tempos do Brasil Império, os sabarenses ansiavam por uma biblioteca pública; e transcreve um artigo publicado em 2 de setembro de 1889, na Folha Sabarense:

“(...) A creação de uma biblioteca publica nesta cidade é hoje de grande vantagem, e para o futuro será de inadiável necessidade.

“Nos que ainda não possuímos os clubs literários, scientificos, etc. que derramaram tanta luz pela massa popular, que agora mais que nunca, precisa liberar a sua inteligência, compenetrando-se do continuo caminho deste fim de século em que todas velhas instituições sofrem ameaças de morte — devemos, ao menos, procurar para as classes industriaes um meio de educar-lhes a intellugencia boçal que, com os desvellos da sciencia, tanto poderia contribuir para a resolução dos grandes problemas que se agitam no seio da sociedade para o qual os membros das classes industriaes, agrícolas, não são verdadeiros cidadãos, porque os inhibe o seu estado intelectual, mas sim profundos admiradores inconscientes, ignorantes.

“Tomamos para epigraphe das nossas considerações — biblioteca publica — porque entendemos que dos melhoramentos intellectuaes, este é o de mais fácil acquiescencia, e o de resultados mais sólidos, mais positivos porque uma bibliotheca, como se fiz muito commummente é a eschola do povo.

“Crear-se uma biblioteca não é uma questão insuperável nesta cidade. A municipalidade que possue boas obras, a elas dôadas pelos ilustrados literários sabarenses, de saudosíssima memoria Dr. José Graciano Gomes Baptista e Marquez de Sapucahy, obras pela mesma municipalidade oferecidas à biblioteca efêmera da eschola normal — poderá muito contribuir para a consecução desse desideratum, verdadeiro foco de luz para todas as classes sociaes.

“Feitas estas considerações, si a municipalidade, a exemplo de outras, nos quiser auxiliar, a nós particulares, estamos certos de que brevemente poderá esta cidade possuir uma excelente biblioteca, cujos inestimáveis resultados far-se-ão sentir de uma maneira considerável, especialmente para as classes industriaes que, infundadamente, se acham segregadas da comunhão social.”

Só em 1942 foi fundada a biblioteca pública em nossa cidade, pelo prefeito Homero Machado Coelho.

A princípio, ocupava as duas primeiras salas do prédio da Prefeitura. Bibliotecárias atenciosas ali estiveram em atendimento aos amigos do livro: Maria do Carmo Magalhães, Ruth de Assis Costa, Yolanda Pereira, Edith de Assis Costa Sepúlveda, Maria do Carmo Silva e Maria Machado de Lima.

O interesse demonstrado pelos sabarenses foi se tornando cada vez maior, acontecendo muitas vezes de a única sala para a leitura ficar com as mesas e cadeiras totalmente ocupadas e várias pessoas pesquisando e escrevendo em pé, uma vez que a outra sala era ocupada por estantes de livros.

Tornou-se urgente a existência de melhores acomodações para os leitores e a constante aquisição de mais livros, jornais e revistas, o que vem acontecendo sempre, mesmo nesta época de e-books.

Transferida para suas novas instalações, ainda na Rua Dom Pedro II, ocupou o Solar denominado Solar Dona Sofia, fazendo esquina com a Rua do Fogo (Rua Comendador Viana) e sendo inaugurada pelo prefeito Professor Hélio de Aquino (administração de 1973-1977). Homenageou-se nessa data o professor Joaquim Sepúlveda, que ali compareceu para receber a justa e merecida homenagem, por seus esforços na contribuição do desenvolvimento intelectual dos jovens sabarenses.

Foi um dos lugares mais adorados da meninada e da juventude da minha geração. Todos nós temos vários casos interessantes vividos naquele lugar! Desde livros incríveis que nos fizeram viajar, até divertidas aventuras, pelas oficinas e atividades de que participamos com as sorridentes Ednéa, Graça, Enedi, Imaculada, entre outras... Momentos inesquecíveis, lugar mágico, nas décadas de 80 e 90.

Hoje, nestes tempos de e-book e de redes sociais, a biblioteca, em seus 80 anos, ocupa o andar superior da antiga cadeia, na Rua da República, com seus títulos extraordinários, aventuras fantásticas, guardadas, esperando que alguém as descubra. Ainda recebe novas edições, mantendo-se sempre atualizada.

Vida longa à Biblioteca, porque ainda existem aqueles que não dispensam a deliciosa sensação de se ter o livro nas mãos, perceber seu cheiro, a textura de suas páginas, o prazer e a satisfação de segurar o objeto, que é bem mais do que um simples aplicativo!




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Comentários

  1. Que lembrança boa e bem situada na história!viva nossa querida Biblioteca!

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  2. Amei esse texto Ana Maria! Quanta lembrança boa! E o cheiro e o segurar o livri nunca vão ser substituídos.
    Selma

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  3. Rapidamente li,mas vou reler c mais calma e guardar como lembrança
    Bom q este texto tenha partido de vc,pois somente vc poderia faze-,lo
    Parabéns,querida!!!

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  4. Que texto maravilhoso!!! E a citação atualissima, das vantagens de se ter uma biblioteca, deliciosas lembranças. Ler este texto é colher um pouco o fruto da sua vivência na biblioteca. Parabéns!! E vida longa a biblioteca!

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  5. Ana aguardava ansioso por sua publicação e realmente superou as expectativas!
    Que trabalho primoroso!
    Parabéns!!!

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  6. Aninha! Quanta alegria em ler essas palavras carinhosas, e cheia de grandes verdades. Você sim, teve e tem grandes participações em todas atividades realizadas na Biblioteca. , Aninha criança, Aninha adolescente e Aninha mulher , que guardo com muito carinho em meu coração ,Saudade! Bjssss!

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  7. Que bárbaro, Ana! Belíssimas ligações entre a memória e a história desse espaço recheado de vida, em suas conformações.

    Brilhante!

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  8. Morhamed Carolino Dias10 de agosto de 2022 às 07:56

    Biblioteca não é isso.

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  9. Morhamed Carolino Dias10 de agosto de 2022 às 07:57

    Biblioteca é um centro de documentação, unidade de informação, centro de pesquisa. Não é museu pra quem gosta de cheirar papel.

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  10. A Leitura é um dos objetivos fundamentais da biblioteca pública, mas no acervo da instituição, a gente tem documentos de todas as áreas. Todo mundo tem direito de saber bem sobre qqr assunto e tbm procurar seus livros. A Amazon com seus ebooks não vai suprir esse objetivo. Se as pessoas não entenderem isso, creio precisamos mudar alguma coisa na educação. Nenhuma pesquisa será tão profunda quanto aquela baseada em fontes primárias.

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  11. Lindo Texto, Ana !
    Leitura desbrava caminhos e nossa biblioteca é um verdadeiro tesouro!

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  12. Amei seu texto, Ana! Extraordinariamente fundamentado. Parabéns!
    Prof.: Eustáquio

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  13. E como um viajandao, entorpecida em sua declaração de amor, eu digo e seu côro: vida longa a quem deseja vida longa de cada livro dela, da Joaquim Sepúlveda! Beijinhos da Grazi de Sempre!

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  14. Adorei o seu texto! A começar pelo titulo que sugere "vida longa" a biblioteca e instiga a pensar em sua importância em tempos digitais. No desafio em manter-se ativa, dinamica e participativa. Darsoni

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  15. Parabéns, Ana Maria! Bibliotecas - e museus, em suas especificidades, são lugares dinâmicos, voltados para a informação, pesquisa, ações educativas. E também para o deleite e entretenimento. Quanto melhor se forem também espaços afetivos! Isabella Menezes

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