CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "Última flor do Lácio", poema de José Eustáquio Evangelista

ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO

JOSÉ EUSTÁQUIO EVANGELISTA

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 28. Patrono: Carlos Drummond de Andrade

Ressoa em mim um clamor exangue

que vem de dentro e

que faz brotar tristezas e dores

deletérias que me confrangem

a  alma.

Chore, ó Bilac,

sua última flor do Lácio,

inculta e bela,

precisa da lucidez viva do poeta

que não pode adormecer no silêncio

da solidão.

Nas redes, ofuscam-se,

no quadro do tempo,

o verso da eternidade,

“és a um tempo esplendor e sepultura”,

que pede socorro

no mar da angústia ressentida.

Os pecados embrenham-se

pelos caminhos dessa floresta de enganos

e equívocos  ortográficos

que vilipendiam a memória da alma

perdida nos escombros daqueles

que não leem.

Lá ...

Flor, perde o encanto. Vira fror.

Quis, já não quer mais. Vira quiz.

E... música, perde a harmonia. Vira muzica.

Códigos indecifráveis que se amontoam

nos alojamentos receptores de abreviaturas

e vocábulos, acintosamente, mal escritos,

como desassossego a intrometer-se

nas interrogações de meu espírito.

No Twitter, no Facebook, no Whatsapp,

onde quer que seja...

não há mais lugar

para acentos e pontuações.

A língua se expõe para a realidade,

agredida pelo desmazelo de quem

não quer escrevê-la corretamente.

Esse desrespeito ao vernáculo

algema a alma da flor do Lácio,

doce companheira relacional,

na desolada seara onde a palavra

naufraga no oceano impiedoso

da tecnologia.

Sei que seu coração pede socorro,

ó língua encantada, mas, seu vento

de beleza, precisa espraiar-se

pelas campinas de almas sensíveis,

para compor a música universal do encanto

e juntar-se às carícias de sonhos

que vêm do céu

para o entendimento da alma

humana...