CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "Triste realidade, pobre país", texto de Rodrigo Cabral


TRISTE REALIDADE, POBRE PAÍS


RODRIGO CABRAL
Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 15. Patrono: Joaquim Sepúlveda


“O objetivo principal da política é criar amizade entre membros da cidade.”

O brasileiro que lê esta frase, atribuída ao filósofo grego Aristóteles, logo pensa: "Não na minha cidade, não no meu país". Aqui, nos últimos anos, prevalecem a polarização, o antagonismo e o enfrentamento. Defende-se um grupo político ou determinada “vossa excelência” como se fosse a um deus, um ser supremo concebido sem pecado, que veio a este mundo com a missão de salvar os brasileiros e fazer da nação o paraíso tão sonhado por todos.

Mas essa história da salvação não tem nada de amor e muito menos de amizade. O que testemunhamos é exatamente o oposto. Não há debate de ideias, não há respeito por quem pensa diferente — não há diálogo. Há, sim, insultos desmedidos, agressões verbais e físicas assustadoras, demonstrações infinitas de intolerância e disseminação do ódio.

Triste realidade, pobre país. Milhões de cidadãos agem assim para defender políticos que sequer sabem quem são essas pessoas que desfazem amizades, rompem relacionamentos, brigam com alguém da família, param de conversar com fulano ou ciclano porque “blasfemaram o meu salvador”.

As redes sociais se tornaram cenário de guerra, campo minado onde qualquer opinião contrária, qualquer publicação ou palavra, são mal interpretadas e provocam um dilúvio de críticas e xingamentos. Direita ou esquerda, situação ou oposição, pouco importa. É olho por olho, dente por dente.  O “atire a primeira pedra aquele que não tem pecado”  não está nas escrituras dos discípulos deste salvador que tudo pode.

Comportamentos absurdos, os maiores descalabros do mundo, atitudes que deseducam, discursos falaciosos: tudo é justificado, defendido, aplaudido por uma parcela da população e, claro, criticado por outra. Mas, na maioria das vezes, o enfrentamento é grosseiro, desrespeitoso, fajuto, vazio, e sem argumentos. Pior ainda: com direito a textões, às vezes.

E, assim, grande parte da população perde a oportunidade de refletir. De pensar como legítimos e verdadeiros cidadãos, de considerar o todo, o coletivo, os interesses da nação. 

A palavra democracia vem do grego demokratia e é composta por demos (que significa povo)  e kratos (que significa poder). Ou seja, governo do povo, governo em que o povo exerce a soberania. Mas será que basta apertar a tecla confirma na urna eletrônica de dois em dois anos e só defender o candidato eleito contra tudo e contra todos?

Está mais do que provado que, sem o debate saudável de ideias, sem a participação consciente da sociedade nos temas de maior interesse para qualquer país, não há salvação.  O Brasil e suas misérias são prova disso.

Ah, e um pouquinho de mea culpa, também, não faz mal a ninguém.


Foto: Fabiano Lopes

Comentários

  1. Rodrigo, você está certíssimo! Lamento mto este nosso pais dar tão pouca importância à instrução, pois somente ela é capaz de entender o que foi brilhantemente explanado por vc. Gde abraço. Sua fã

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  2. Arrasou,Rodrigo! Disse o que tenho calado para não polemizar.....Quanta idolatria! Quanta vela acesa pra tão pouco santo, não?! O bem comum pouco importa para os fanáticos de A ou de B.Triste realidade a nossa!
    Parabéns! Adorei seu texto!!!!

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    1. Querido Rodrigo, relendo os textos aqui postados, notei que não me identifiquei,acima! Sou a Monique, como diz minha nora/filha,ou Monikinha, como me chama o nosso amado Bernardo, em suma, Mônica Maria, viu?!

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  3. Ahh Rodrigo, que discernimento! Você sim me representa. Abração meu querido! Selma

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  4. Parabéns, Rodrigo, pela escolha de um tema tão atual e pela clareza em sua exposição!
    O que Aristóteles propõe anda esquecido em nosso tempo. Os vícios do partidarismo e o culto ao personalismo, entre tantas outras formas de corrupção política, tornam nosso povo cada vez mais distante de um debate saudável em favor da democracia.

    -Alzira Umbelino

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