"Avesso", de Selma Regina Cândido Rossi

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 19. Patrono: Lucas José de Alvarenga

AVESSO

Sou mulher — com toda a complexidade de ser.

Consciente dos rótulos que colam em meu invólucro.

Meu e de tantas:

Cobradora, implicante, chiclete, chata, pé no saco, arrogante, se acha, doida, assanhada.

E tantos outros...

Sem julgar ninguém, além de mim mesma, continuo.

Sou mulher.

E sou mesmo a maioria do que me rotulam.

Cobro — quando não há reciprocidade.

Implico — diante da falta de autenticidade.

Arrogante — quando passam por cima da minha humildade.

Chiclete, chata, pé no saco — grudo em quem amo, aí o amor ganha essas nomenclaturas...

"Me acho", sim; me acho incrível, para quem me acha incrível.

Me amo, e quanto tempo levei pra me amar!

Doida, assanhada (palavra que nem está na moda hoje), sim, por ser extrovertida em algumas situações.

Sou mulher, e muito.

Intensa em tudo.

Sou carente e sofro e choro e lamento, me perco e sou angústia e desespero, arrependimento, impulsividade e vulcão e esbravejo, tempestade e ira.

Sou mulher.

Pelo avesso a intensidade permanece.

Amo demais, rio, gargalho, sou feliz e esperançosa, me encontro e me acalmo, sou e peço perdão, sou mansa, distribuo carinho, colo, ombro e abraço, me dispo pra vestir alguém, me falto pra não faltar pra alguém, sou bonança e sou luz.

Meu avesso sou eu.

Essa é a mulher que sou.

O avesso de mim.

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