"A Fonte da Juventude", de Luiz Alves

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 18. Patrono: José Seixas Sobrinho

A FONTE DA JUVENTUDE

Participava de certo bate-papo entre pessoas de nossa idade. Era verdadeiro festival de dores nas juntas. Enquanto ali recordam os idos e vividos tempos, chega outro companheiro da mesma geração. Ao mesmo tempo em que todos gemem suas macacoas, o citado companheiro se aproxima todo serelepe, trazendo ao colo um lindo bebê. Filho dele! Inveja geral. Um corajoso companheiro pergunta se ele estava certo da autoria do pimpolho. Constrangimento geral. Mas o outro levou numa boa e informou, demonstrando não estar por dentro do significado de certas siglas:  

— Claro que é meu! Mandei fazer o teste de BNH. O negócio, gente, é que lá no quintal de casa tem uma erva santa que vou te contar. Colho as ramas, a patroa faz uma salada, e o milagre acontece.

A turma se entreolha e, esperançosos, quer também um pouco do milagre.

— Deixa comigo. Me esperem aqui amanhã, mais ou menos neste mesmo horário.

O orgulhoso papai vai para casa, colhe uma touceira de braquiária e separa pequenos feixes do capim. No outro dia, a terceira idade o esperava, com seus cabelos grisalhos e ferventes expectativas.

— Trouxe tudo amarradinho, na dose certa. Não exagerem! Caso contrário, a pobre patroa é que vai pagar o pato.

A turma avança sobre o miraculoso afrodisíaco e corre pra casa. Ficamos só dois, eu e o milagreiro. Então decidi pôr tudo em pratos limpos.  

—  Me conta a verdade. Viagra não nasce no pasto, uai!

— Aquilo é capim, comida pra boi. Mas se a fé é capaz de mover montanhas, também pode levantar cadáveres. Vamos esperar.

Demos boas risadas. Já era noitinha e ficamos observando o alegre bando de coroas virando a esquina, indo pra casa pastar.

A fé rendeu-lhes sucesso? Sei lá. Perguntar para as patroas é que eu não vou. Mas parece que realmente algo tem acontecido. Em reservada conversa com a vizinhança, muitos juram estar ouvindo ultimamente estranhos mugidos pelas madrugadas.

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