CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "Por uma tal azáfama", de Graziela Armelao Jácome Rosa

POR UMA TAL AZÁFAMA


GRAZIELA ARMELAO JÁCOME ROSA
Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 11. Patrono: Gilberto Madeira Peixoto


A atual azáfama envolvendo questões que tangem ao denominado Patrimônio Cultural exige, no mínimo, consciência de que estamos abrangendo a valorização coletiva de bens, de formas práticas, de saberes que estão conosco em nosso presente, pretérito e, por isso mesmo, para abonamento de usufruto futuro. Afinal, “meu pai sempre me dizia, meu filho tome cuidado, quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado” (Paulinho da Viola)

Os processos que nos ligam à construção da importância da preservação do Patrimônio Cultural no Brasil nasceram, por assim dizer, por ação do Estado. Portanto, foi ele o criador de “o que deve e o que não deve” ser preservado e, por conseguinte, lembrado ou esquecido. Então temos aqui algo um tanto quanto antagônico, não foi exatamente um processo coletivo, portanto do povo? Ah, mas e se assim não fosse, teríamos nós, povo, escolhido algumas “pedra(s) e cal(s)” para representarem nossa identidade? É provável que sim, todavia sob outro ponto de vista e análise. Porém, não é sobre isso que queremos falar, e, para hoje... Basta-nos essa pequena provocativa! 

Sabemos mais do que nunca que o que nos diferencia dos animais não é a nossa visão racional sobre a vida e seus fenômenos, mas, antes, nosso superpoder de “fazer cultura”, de nos modificarmos e ao meio, de acordo com nossa vontade, necessidade e evolução (essa expressão ainda é bem intrigante, mesmo assim seguiremos com ela), então nosso olhar urgente, logo de azáfama sobre o patrimônio cultural, nos fará perguntar, uma vez mais, o que fazer para esse pretérito-presente-futuro? Então vejamos:

Educação, sempre ela! Se for dado o direito a todos à informação acerca da importância do que vem a ser patrimônio, precisamos pensar em como envolvê-los nessa jornada. Assim sendo, é mesmo uma questão de engajamento, ou seja, albergarmos alunos, professores, para sermos mais assertivos, todo mundo, nesse processo de contato com a valorização dos bens elencados, transformando, ainda, essa ação em um momento de natureza social do patrimônio. Consequentemente, todos poderão desconstruir a ideia de que a conservação dos bens é de total responsabilidade do Estado. Ah, o Estado, repito, “Basta-nos essa pequena provocativa” (aquela anterior), estão a ver? 

Todavia, é preciso mais, é preciso considerar que tudo se dará através da experiência. Uma espécie de encantamento, um acesso à informação, à ação, à construção, ao diálogo, e, por consequência, um quase abracadabra! Para dizermos depois, aceitem o convite e deliciem a sensação de pertencerem a si mesmos, às suas histórias e diversos mundos em visões quase quarto-dimensionais sobre o que fostes, sois e sereis: Seres de cultura!

Voltemos à azáfama das questões do patrimônio cultural: é fato que o conhecimento, admiração e preservação dos bens coletivos têm sido a forte tônica para um número considerável de pessoas e instituições. E, como não podemos esquecer que a constituição histórica do Brasil tem que considerar diversas para não dizermos centenas e centenas de manifestações, esses trabalhos de cuidado têm se ligado cada vez mais à sociedade; afinal, somos um todo e, inclusive, donos dessas centenas de centenas de pedra, cal, sons, sabores, danças e viveres! Somos nós os construtores, herdeiros e, inclusive, destruidores (isso ficará para outras páginas. Oxalá que até lá isso já não mais fosse verdade). 

Em tom de despedida ou quem sabe de até breve, seguiremos afirmando que as questões do patrimônio enquanto fator social de alfabetização e preservação do Geist não poderá ser abandonada uma vez que o que nos restam são as lembranças através de nossos processos mnemônicos ou de nossos modos de ser e fazer ou através de nossos sonhos para o futuro, e isso, indubitavelmente, envolver-nos-á em espírito! Espírito no tempo entre pretérito-presente-futuro. Afinal, não fomos, somos e seremos sem sermos a própria construção de nossas pegadas, marcas deixadas no zeit, no tempo, para o tempo com tempo. Garantia sine qua non de nossa própria existência. Aliás, cuidar do patrimônio é mesmo isso: existir!



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