CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "Gatilhos", Mirtes Chagas e Souza

GATILHOS

MIRTES CHAGAS E SOUZA
Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 24. Patrono: Pedro Lúcio Pereira


A alegria escancarou a porta

e, juntas, de mãos dadas, corremos desvairadas

pela estrada tortuosa

Estava órfã de desejos,

mas, generosamente,

me senti acolhida no diálogo

Sem indagações

Sem restrições...

Amorosamente...

Havia um medo persistente

de pessoas sem rosto

que já não importavam

ou faziam sentido para mim

Também havia objetos dispostos

com a intenção de chocar...

de seduzir...

Especialmente uma taça fria, intencionalmente jogada...

ignorada... solitária e inerte

Só eu poderia, com minha boca sedenta, dar-lhe função ou vida

Meus olhos passeavam desconcertados pelo espaço frio e deserto

Uma Incompletude insistente, lembrando dias iguais e previsíveis,

que confrontavam sentimentos irreverentes e sem reservas,

reafirmando com perplexidade a imaterialidade do nosso afeto

Afeto que fora mutilado pela descrença,

manchado por uma chuva de medos

e paradoxalmente inundado por uma secura própria....

Adornando definitivamente a aridez da minha alma!

Então, me dobrei incrédula sobre os seixos escorregadios...

E supliquei!...

Nesse momento, a claridade da lua me visitou em frestas sorrateiras

Clareando atalhos para meus sonhos

ou gatilhos para meus traumas!

No silêncio... olhando bem fundo, estava a alegria

Abracei-a com um desejo inesperado:

Era a chance de que eu precisava!

Deixei-me levar...

A convite daquela noite liberta e inconsequente,

te encontrei me trazendo flores.

Aceitei!

Mas, ainda assim, me senti sozinha...

Desamparada...

Ainda que, por dentro, empoderada!

Por isso, segui!

Agora forte,

colhi espinhos pela estrada

Confiante,

Levei tudo com resistência e insubordinação

Por nada me voltei!

Dos meus sapatos silenciosos já se ouviam

passos firmes e compassados.

De repente, me vi correndo...

Livre... Desatinada!

Corri... Corri... Cheguei a sorrir...

Mergulhei tudo em insana ilusão!

Peguei aquela taça!... Me lambuzei toda no vinho,

mordi o lábio e me lancei...

Acordar agora não era opção!

Sonho maldito!

Gatilhos improváveis...

Transbordamentos da alma!



~

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Comentários

  1. Quanta emoção! Que delícia!
    Li e reli várias! Adorei. Sou sua fã demais! 🥰🤩

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  2. Acordar agora não era a opção, Sonho maldito!

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  3. Que lindo tia Mirtes!!! Amei!!! Você me inspira, sempre!! 👏🏻👏🏻👏🏻

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  4. Que leveza nos gatilhos do seu texto! Muita poesia! ⚘⚘

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