CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "A importância universal de Nova Lima, a terra do ouro", artigo de Walter GonçalvesTaveira

A IMPORTÂNCIA UNIVERSAL DE NOVA LIMA, A TERRA DO OURO 

WALTER GONÇALVES TAVEIRA

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 2. Patrono: Antônio Augusto de Lima


A descoberta do ouro em Nova Lima ocorreu no ano de 1700. Foram descobridores dois bandeirantes, Garcia Rodrigues Paes e seu irmão Sebastião Pinheiro da Fonseca Raposos, que não permaneceram na região para reclamar seus direitos de concessão e, portanto, não foram eles que exploraram as reservas de ouro decorrentes de suas descobertas. Mas a atividade de exploração mineral começou a ocorrer na região imediatamente, nos anos seguintes. Em pouco tempo Congonhas de Sabará tornou-se importante centro de produção de ouro nas Minas Gerais, tendo inclusive hospedado Fernão Dias Pais Leme, neto do grande bandeirante e proprietário da Fazenda Fernão Dias Pais, em suas atividades nas lavras de ouro. Mas a mineração de ouro organizada só teve início no Brasil após a outorga, por D. Pedro I, da primeira Constituição Brasileira, em 1824, que permitiu a entrada do capital estrangeiro na mineração, antes proibida pela Coroa Portuguesa. Ao longo dos 319 anos dessa existência, Congonhas de Sabará (até 1891), Villa Nova de Lima (de 1891 a 1923) e finalmente Nova Lima (a partir de 1923), a história registra uma enorme frequência de figuras de notória importância que visitaram a comunidade.

I - Um padrinho de arromba: Um assento de batizado, da lavra de um parente deste autor e de interesse da classe médica de Nova Lima, ocorrido na matriz de Nossa Senhora do Pilar, curioso pela inclusão do fulgurante currículo do padrinho no texto do registro, considerado muito importante para o ambiente singelo do arraial de Congonhas de Sabará (o Príncipe Regente era Dom João VI, que reinava em lugar de sua mãe Dona Maria I, a Louca, então enferma): “Aos 03/07/1814 baptizei e pus os Santos Óleos a Quirina, innocente, filha legitima do Cirurgião Mor João Rodriguez da Cruz e Dona Maria Pereira Roberta de Jesus, branca”. “Forão padrinhos Florêncio Frederico dos Santos Franco, Cavalheiro Grotesco na Ordem de Christo, Fidalgo da Real Casa de Sua Alteza Real, Cirurgião de Sua Real Câmara, Capitão do Regimento de Cavallaria de Linha de Villa Rica, foi Delegado do Conselheiro, Cirurgião-Mor do Reino em toda esta Capitania de Minas Geraes e na de São Paulo, tudo por Sua Alteza Real, o Príncipe Regente, Nosso Senhor; e Anna Rosa do Viterbo, do que para constar foi este assento que originei”. O Coadjutor PE. Antonio Fernandes Taveira.

II - Dom Pedro I: Em 1831, estiveram em Congonhas de Sabará o Imperador Dom Pedro I e a Imperatriz, Dona Amélia de Leuchtenberg. Passando pela vila, receberam os aplausos da população e foram recepcionados na Casa Grande pelo Capitão George Lyon, então um dos proprietários de Morro Velho. Na época ele visitava as comunidades de Minas Gerais em busca de apoio político, que afinal ele não teve e poucas semanas após ter estado aqui abdicou do trono em favor de seu filho, menor de idade, o brasileiro Dom Pedro II, e foi então para Portugal para retomar o trono para sua filha, então indevidamente ocupado por seu irmão Dom Miguel.

III - Richard Francis Burton: Diplomata, escritor e antropologista britânico, veio a Congonhas de Sabará em 1867, seguindo um projeto de viagem exploratória a pedido do Parlamento Britânico, do Rio de Janeiro a Morro Velho e de Sabará ao Oceano Atlântico (o documento original denominou-se “The Highlands of the Brazil”). Burton nos deixou, com apoio da Saint John d’El Rey Mining Company Limited, o mais completo relatório de nossa região. Na sua viagem de canoa, de Sabará ao Oceano Atlântico, ele recebera uma assistência do Superintendente da companhia, Sr. James Newell Gordon, que destacou um jovem de nome Agostinho para acompanhar Burton em sua viagem até o Atlântico. Burton não registrou em seu relatório o nome completo de Agostinho, mas o descreveu com o primeiro nome, alguns detalhes de espírito de amizade, inteligência, conhecimento do Rio das Velhas, experiência nas atividades auríferas e uma atratividade pelo álcool, ainda que moderada. A coincidência dessa descrição com a índole e experiência do avô paterno deste autor, Agostinho de Barros Taveira, é plena. Ele tinha na época 20 anos de idade e, embora amigo de Gordon, não era funcionário da mineradora, mas sócio de Borges, Taveira & Cia. (que anos mais tarde tornara-se Casa Aristides), com seu irmão mais velho Manoel e o terceiro sócio português Antônio Borges. Agostinho e Manoel tinham também uma mina de ouro próxima de Itabirito, numa localidade denominada de Morro de São Vicente. Para este autor não resta dúvida de que o vovô Agostinho foi o companheiro de Richard Francis Burton na viagem de Sabará ao Atlântico.

IV - Dom Pedro II: Em 1881, portanto 50 anos após o seu pai, estiveram em Nova Lima, na época ainda Congonhas de Sabará, o Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Dona Tereza Cristina, desta vez em visita à Mina de Morro Velho, então a maior produtora de ouro do país, já então de propriedade da britânica Saint John d’El Rey Mining Company Limited, sediada em Londres. Foram recepcionados pelo Superintendente George Chalmers.

V - Sua Majestade Dom Albert I, Rei da Bélgica: Em 1914 estiveram em Nova Lima Sua Majestade Albert I, Rei da Bélgica, e sua mulher, a Rainha Elizabeth, em visita à Mina de Morro Velho. Na época eles foram recepcionados pelo Superintendente George Chalmers e ficaram hospedados na Casa Grande.

VI - O Príncipe de Gales e o Duque de York: Em 1930 estiveram em Nova Lima, em visita à Mina de Morro Velho, o Príncipe de Gales, Edward, e seu irmão Albert, o Duque de York. Em 1936 Edward tornou-se o Rei Eduardo VIII, da Inglaterra, e Imperador da Índia, que no mesmo ano renunciou ao trono para não renunciar ao amor de uma plebeia, uma norte-americana divorciada. O irmão Albert assumiu, então, o trono como Rei George VI, que foi pai da atual soberana do Reino Unido, Elizabeth II.

VII - Copa do Mundo de 1950 (I): “The English Team”: Na Copa do Mundo de 1950, que teve o Brasil como sede, o tradicional “English Team”, ou seja, a Seleção Britânica de Futebol, ficou hospedada em Nova Lima, na Casa Grande, e realizando os treinos no campo de futebol das Quintas. Uma cena cômica ocorreu nas Quintas, durante um treino da seleção. O falecido Toniquinho (um garoto amigo deste autor, filho do histórico craque villanovense, João de Deus) fazia embaixadas com um bagaço de laranja ao lado das traves do gol onde estava o goleiro titular da seleção. Este, encantado com o que via ao seu lado, distraiu-se completamente sem perceber um ataque da equipe contrária que assinalou o gol. O técnico da seleção interrompeu o treino, passou um sermão de elevado teor sonoro no goleiro e solicitou a retirada do Toniquinho — pivô da tragédia — do campo.

VIII - Copa do Mundo de 1950 (II): Ainda durante a Copa do Mundo de 1950, esteve em Nova Lima, em visita ao glorioso Villa Nova Atlético Clube, o francês, Sr. Jules Rimet, então o terceiro Presidente da Federação Internacional de Futebol Amador (a FIFA), de 1921 a 1954. Era também o Presidente da Federação Francesa de Futebol (FFF). Em 1928 tornou-se Cavaleiro da Ordem Militar de Cristo de Portugal. A taça da Copa do Mundo levava seu nome, “Taça Jules Rimet”, e foi roubada enquanto na posse da CBF e nunca foi encontrada. No ano seguinte, em 1951, o Villa Nova sagrava-se Campeão Mineiro.

IX - Deputado Waldomiro Lobo: Na década de 1960, o deputado estadual Waldomiro Lobo, do PTB, que gozava de expressiva influência política junto ao eleitorado novalimense, propôs a mudança do nome de Nova Lima para “Gabriel Passos”. Este fora Ministro de Minas e Energia, tendo feito ferrenha oposição ao projeto de mineração de ferro da empresa norte-americana “The Hanna Mining Corporation”. Gabriel Passos falecera antes do término de seu mandato e, em que pese o reconhecimento de seu valor e o respeito por sua pessoa como autoridade, a população da cidade, através de manifestos e passeata, não permitiu que a proposta fosse adiante. Na época, entre os filhos de Nova Lima, ninguém admitia tornar-se filho de Gabriel Passos. Depois desta, Waldomiro Lobo perdeu o eleitorado de Nova Lima.

X - Dom Bertrand de Orleans e Bragança: Príncipe Imperial do Brasil, bisneto da Princesa Isabel, segundo sucessor natural do trono na hierarquia monárquica brasileira, esteve em Nova Lima por três vezes, em 2008, 2010 e 2011, por ocasião de Encontros Monárquicos Anuais, de iniciativa do Círculo Monárquico de Minas Gerais.

XI – As princesas Dona Amélia Maria de Orleans e Bragança e Dona Maria Gabriela de Orleans e Bragança: Quinta e sexta sucessoras na hierarquia monárquica brasileira, estiveram em Nova Lima em 13 de agosto de 2010, quando inauguraram um Memorial da Princesa Isabel, junto à Capela Imperial Magnificat, no Condomínio Vila del Rey.

Além destes, outros cientistas estiveram em Congonhas de Sabará, nas fases de Brasil Colônia, Primeiro e Segundo Império, a saber: Auguste de Saint-Hilaire, naturalista francês; Visconde Ernst de Courcy, nobre e explorador francês; Karl Friedrich Philipp von Martius, botânico alemão; Johan Baptist von Spix, geólogo austríaco; François Castelnau, naturalista francês; Barão de Eschwege, geólogo alemão; William Jory Henwood, geólogo da britânica Imperial Brazilian Mining Company que comprou a Mina do Gongo Soco, no século XIX.

Finalmente, é válido destacar que a lavra de ouro em Nova Lima foi interrompida há cerca de quinze anos, ou pouco mais, mas as reservas não se esgotaram, ainda estão lá. A conjugação de fatores em torno de uma reserva, como preço do metal no mercado internacional, política de câmbio do país, o teor de ouro na mina por tonelada de rocha e a produtividade é determinante para reativar as atividades de exploração em qualquer tempo. A Anglo Gold Ashanti, atual proprietária de Morro Velho, desativou as operações, mas não se desfez do patrimônio e tampouco deu a ele outra destinação. Portanto, é possível que a produção volte a acontecer em Nova Lima, no futuro.

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