CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "Sonhando Machado e Outros Mais", poema de José Eustáquio Evangelista

SONHANDO MACHADO E OUTROS MAIS

JOSÉ EUSTÁQUIO EVANGELISTA

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 28. Patrono: Carlos Drummond de Andrade

Adormeci!

Dentro da noite,

eis que surge o poeta,

buscando encantos

nos cantos das letras

universalmente belas!

Inesquecíveis!

Em seu corpo imenso,

como onda gigante,

feito no mar de sonhos,

transbordante de almas mágicas,

que transformam.

Me engarupei.

Assim, de repente, me vi

passarinhando pelos jardins quintanares

da poesia, e como abelha

sugava o néctar de poemas

ainda vivos e, docemente, eternos.

Pelos caminhos, Quintana e eu

procurávamos, avidamente, o Bruxo do Cosme,

enquanto nossos desejos pousavam,

em pensamento, na alma do escritor,

impregnada de psicologia enigmática

e indecifrável.

Queríamos ver Capitu.

Abstrair dela, adormecidos na eternidade,

e sempre vivos,

os mistérios gerados por uma traição

que ninguém sabe dizer se existiu, ou não.

Nem Assis.

As interrogações não conseguem

respostas que se sustentam

no enigma de Ezequiel, a suscitar

dúvidas de muitos, e de Casmurro.

Queríamos explicações do Cosme Velho.

Não o encontramos. Nem respostas,

nem Sofia, nem Virgília , nem ninguém...

Todos confusos, espalhados na memória do tempo,

deixando todas as três, vivas, ainda,

pelos caminhos do tempo inexorável,

que foge.

Não quero acordar, Mário não deixa.

O sonho tem de continuar no sono da vida.

A obra de Assis é sem fim, motivadora,

geradora de dúvidas, também sem fim,

a produzir, a cada instante, claridades instigadoras

que não se explicam.

Costuramos os mistérios da obra,

eu e ele, no peito das interrogações,

e seguimos, buscando o fulgor

nas trevas indecifráveis do Bruxo.

Quase acordo!

Inebriados estamos.

Encanto! Prazer! Gozo!

Não sabemos explicar:

nem eu, nem Mário.

Seguimos pelos campos das obras...

Muito sol.

Na sombra, nos deparamos com Beatriz,

musa de Dante,

divinamente bela,

enfeitada com as páginas coloridas

da Divina Comédia de Alighieri.

A flor murchou cedo.

No sonho, vistosamente linda.

No coração de Dante, inteiramente amante.

Senti nas divagações

da noite, presença de acordes de amores,

eternos, deixados no coração do poeta,

para cantos novos, sem tempo,

e, em qualquer tempo, entoados

na consciência da literatura universal.

O Inferno, o Purgatório e o Paraíso

ficaram, para sempre, cobertos

de amor pelos acontecimentos

atemporais que simbolizam a perfeição

da completude dos seus cem contos de rara beleza.

Beatriz guiou Dante, no Paraíso,

mas ainda está lá, compondo canções

de amor a Dante.

Acordei!

Queria seguir sonhando.

Com certeza, sonharei novamente

em viagens intermináveis

com Drummond, Bandeira. Com Eneida e Camões... Com o mundo dos sonhos...

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