CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "O Sobrado Borba Gato", de José Arcanjo do Couto Bouzas

O SOBRADO BORBA GATO

JOSÉ ARCANJO DO COUTO BOUZAS

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 6. Patrono: Arthur Lobo


A partir dos anos 1980, o Museu do Ouro, à época uma instituição subordinada ao SPHAN-próMemória, “seguindo orientação do Programa Nacional de Museus, resolve descer a Intendência e ampliar sua atuação, para tornar-se uma agência cultural, ligada à comunidade, às suas raízes e ao seu patrimônio, sem deixar de lado seus princípios básicos de coletar, pesquisar, conservar e expor.”


A Diretora do Museu, a museóloga Maria Luiza Querini, cria então o Programa Educativo e Cultural, juntamente com os profissionais da Casa, aliando-se à Fundação Casa de Cultura e ao Conselho de Arte, com o apoio da Prefeitura Municipal e de muitos entusiasmados sabarenses, para desenvolver as diversas atividades educativo-culturais, em caráter não convencional, no Município de Sabará.


Para colocar em prática o PEC, era necessário um local que fosse adequado, e o edifício do Museu não possuía o espaço – livre – necessário à realização deste projeto. Havia um imóvel, tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional, localizado no Centro Histórico da cidade — antiga rua da Cadeia —, conhecido popularmente como Casa de Borba Gato, que se adequava à instalação do referido Programa.


Como a Instituição, à época, passava por grandes dificuldades, por falta de recursos, o sobrado foi alugado por quase 3 anos, pelo Museu, com a ajuda de três beneméritos cidadãos, empresários da cidade, cujo dinheiro era recolhido, todo mês, por dois funcionários, mediante um recibo. Mas depois de muitas idas e vindas, finalmente, em 1987, o Sobrado foi desapropriado pelo Governo Federal, como local de interesse público, sendo incorporado ao acervo de bens imóveis do IPHAN, e transformado em Anexo do Museu do Ouro. O valioso imóvel recebeu a documentação do Arquivo Histórico, os livros raros da Biblioteca, e, de acordo com o  Programa Educativo e Cultural,  tornou-se o centro de resgate da cultura regional, abrigando cursos de artes plásticas e artesanato em geral, Renda Turca — uma técnica antiga que estava em extinção —,  bordados variados, a Palma Barroca — utilizada para decoração de igrejas e oratórios —, cursos de teatro e de montagem e produção de eventos, exposições temporárias, gastronomia, educação não  formal de crianças e de adultos, encontros e trabalhos de grupos de Terceira Idade — os chamados “Avançados” —,   além  de resgate e apoio às festas tradicionais da cidade e outras atividades afins.


Pesquisas recentes, em documentos arquivísticos — inventários, testamentos, e outros — esclareceram, em parte, a origem da casa, como sendo de propriedade, no primeiro quartel do século XVIII, do português Antônio de Souza Guimarães, fazendeiro e minerador, nascido na Villa dos Guimarães, Arcebispado de Braga, que era também dono da antiga Fazenda do Cercado, ao pé da Serra do Curral, medindo 3 léguas de comprimento por 1 de largura (19 km  x 6,6 km), uma das propriedades mais antigas do Curral Del Rey e, segundo consta no seu testamento,  concedida por sua Majestade, o Rei de Portugal, como era praxe com os primeiros colonizadores da região mineradora. Ao morrer em 1770, o rico minerador, deixou o sobrado para seu filho, o Padre João de Souza Guimarães, que ali morou até o ano de 1800, quando foi transferido como Vigário da Igreja da Boa Viagem, no Curral Del Rey. Após sua morte, as irmãs do padre utilizaram a casa como hospedaria. O prédio foi posteriormente vendido para o Cel. Francisco de Assis Martins da Costa, que morava lá, de aluguel.  Em 1871, o professor Herculino Carlos do Couto (Lima) comprou a casa, transformou o prédio em uma Escola de primeiras letras e residência da numerosa família. Sua herdeira caçula, Hidralina Martins Pereira do Couto Lima, residiu nela até falecer em fins dos anos 1960.


Devoluta por alguns anos, foi alugada pelos herdeiros, nos anos 1970, e transformada em Bar e Restaurante, sendo por algum tempo abandonada e arruinada, quase vindo ao chão.   


Claro que a referida casa não pertenceu nem foi moradia do intrépido bandeirante, descobridor das Minas do Sabarubuçu, até porque ele morreu em 1718.


O Sobrado, quando passou a viver outra história no século XX, como Anexo do Museu do Ouro, continuou com o nome, mas tão somente como uma homenagem ao Bandeirante Paulista, tornando-se “Sobrado Borba Gato”.


Havia, nos anos 1980, na sala da entrada do sobrado, uma mensagem que demonstrava, e ainda demonstra, a importância que possui a Casa Borba Gato para os sabarenses: “Esta casa representa a luta de uma comunidade, na conquista de um espaço que lhe é de direito. Acredite conosco. Lute com a gente”.



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Comentários

  1. Como é bom o conhecimento.
    Obrigada por nos proporcionar isso. 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
    Selma

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  2. Grande Bouzas! Bom rasgar a superfície e dar um mergulho na história do nosso patrimônio . Muito bom.
    Silas Fonseca

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