CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: Walter G. Taveira: "Nova Lima, cidade minerária que conquistou a continuidade de sua existência"

NOVA LIMA, CIDADE MINERÁRIA QUE CONQUISTOU A CONTINUIDADE DE SUA EXISTÊNCIA

WALTER GONÇALVES TAVEIRA

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 2. Patrono: Antônio Augusto de Lima


No início do Século XVIII brotou nas franjas do Espinhaço, no fundo de um belíssimo vale, uma laboriosa comunidade mineraria que, extraindo ouro das entranhas da terra, atravessou os séculos entesourando cultura, tradição e história.

 

Atraindo gente dos mais longínquos rincões da terra, a tímida e romântica Congonhas de Sabará, sempre apoiada em forte tradição cristã, escreveu sua história com suor, alegria e glória. Foi uma dentre poucas comunidades auríferas da época em que inexistiram as tradicionais torrentes de sangue que notabilizaram o ouro como o “vil metal”.

 

Aquela pequena comunidade de outrora evoluiu para vila ganhando a denominação de Villa Nova de Lima ainda no final do Século XIX, e no primeiro quarto do Século XX atingiu o status de cidade, com o nome de Nova Lima. Formou sua etnia miscigenando nacionalidades das mais diversas, com destaque para portugueses, africanos, ingleses, galeses, escoceses, espanhóis, italianos e, em menor escala, alemães, sírios, libaneses, austríacos, dinamarqueses, suíços, chineses, franceses, indianos, lituanos, gregos, holandeses, japoneses e outros. Assim vários povos contribuíram para a formação da comunidade, e esse acúmulo cultural fez de Nova Lima um mosaico de raças, culturalmente avançado e sem manifestação de preconceitos.

 

Muita criatividade aconteceu ao longo dos três séculos da palpitante atividade minerária, muitas inovações surgiram na região e foram exportadas para o mundo, com destaque para a tecnologia de exploração aurífera ali desenvolvida pelos “ingleses”.

 

E foi ainda em Congonhas de Sabará onde nasceu aquele que viria a ser o salvador da produção de ouro do Brasil, o cidadão Cândido José de Araújo Viana, situação esta que dá a ele duas naturalidades, Sabará e Nova Lima. Toda a região aurífera da província, outrora rica, atravessava um ritmo de decadência que se iniciara por volta de 1760, com a exaustão acelerada das catas do ouro de aluvião, agravado na época pela inviabilidade econômica da mineração organizada a partir da lavra em rocha. De 1760 em diante toda a atividade de lavra de aluvião se extinguia em toda a extensão do que fora outrora o Eldorado das Minas Gerais, ressalvando-se que, em Congonhas de Sabará, isto começou por volta de 1820. Em 1824, o Brasil já independente recebeu sua primeira Carta Magna, outorgada por D. Pedro I, a qual passou a admitir o capital estrangeiro na mineração e garimpagem, antes vedado pela Coroa. 

 

Assumindo o Ministério da Fazenda do Império, em 1832, por nomeação da Regência, o cidadão mineiro, congonhense (sabarense/novalimense), Cândido José de Araújo Viana — que mais tarde, já no Segundo Império, tornou-se o Marquês de Sapucahy. Ele capitaneou um programa de reforma financeira que, entre inúmeros aspectos positivos, incluiu a fixação oficial do preço do ouro com base no mercado internacional. Ele pode ter tido nessa medida uma dupla intenção, ou seja, a de valorizar as reservas da Corte e com isso maximizar o limite do meio circulante e a de atrair novos investimentos para a mineração.

 

Era o que ainda faltava no cenário. Viana deixou a Fazenda em 1834, e a Saint John D’el Rey Mining Company Limited comprava a Mina de Morro Velho e, já em 1835, reiniciava as operações de exploração aurífera. Fundada em 1828, em Londres, teve seu nome vinculado a São João d’El Rey, pois seu objetivo era o de explorar ouro naquela localidade. Iniciara as operações em 1830, mas já em 1832 fechara a mina, em São João d’El Rey, em razão de inviabilidade econômica.

 

Ainda no setor mineral Nova Lima se destaca desde a década de 1970 como importante produtora de minério de ferro no país. Hospeda também a sede de importantes grupos empresariais como Fiat, Mendes Junior e outros, e de escolas de nível superior, com destaque para a Fundação Dom Cabral.

 

No cenário comercial, cumpre destaque para um saudoso estabelecimento que praticamente já nasceu grande, e que foi muito mais antigo do que imagina a população de hoje. Trata-se da Casa Aritides, cuja existência superou os 100 anos de atividades. Sua sede é hoje propriedade da Prefeitura Municipal e hospeda uma admirável escola de artes. Nova Lima mantém ainda hoje visíveis características de sua origem.

 

A cidade não tem mais a lavra do ouro em seu território, mas retém a operação de refinamento do minério, ainda extraído na vizinhança. Retém também a sede da atual empresa proprietária do acervo advindo da Saint John d’El Rey Mining Company Limited, a sul africana Anglo Gold Ashanti Ltda. Preserva suas florestas e mananciais que a tornam o lugar ideal para se viver com o máximo de qualidade de vida entre todas as suas congêneres na área metropolitana de Belo Horizonte. É no território de Nova Lima onde a COPASA capta cerca de 70% da água consumida na região metropolitana de Belo Horizonte. A população está em franco crescimento, proliferam-se os condomínios residenciais, e desenvolve-se sua atividade econômica em níveis de destaque nacional. A cidade tem história e tradição. 

  

Fonte: Casa Aristides, a Saga de um Lendário Empório das Gerais, ISBN 978-85-916412-2-2, deste autor, Gráfica e Editora O Lutador.



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