CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "Crônica de Dezembro", de Túlio Damascena
CRÔNICA DE DEZEMBRO — E TUDO SE RENOVA NO ANO QUE VEM
TÚLIO DAMASCENA
Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 16. Patrono: José Patrício
Roberto Pompeu de Toledo em um poema diz: “Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, / a que se deu o nome de ano, / foi um indivíduo genial.” Assino embaixo. Com essa premissa, oferece às pessoas a oportunidade de recomeçar. Quando chegamos a esta época do ano, o fim de um ciclo, é a hora de descansar, pois daqui a pouco começa tudo de novo. Além desse corte no tempo, uma outra ação típica de dezembro é a criação de listas dos melhores do ano.
Quem sou eu para listar de melhores do ano; serei mais comunitário e menos petulante: compartilho a lista dos livros que mais mexeram comigo em 2021.
Ah, e, antes de começar a lista, gostaria de contar para você, querido leitor, que uma das boas coisas que me aconteceram em relação à Literatura foi a participação (como bolsista) de um clube do livro denominado África em Livros. Todo mês é escolhido um livro de um país africano e, após trinta dias de prazo para leitura, fazemos um encontro virtual para conversarmos sobre a obra. Este ano viajamos para Moçambique, Angola, Zimbábue, Ruanda, Togo, Mali, Nigéria e Quênia.
E, para começar a minha lista, vou para Moçambique, onde vive e escreve a vencedora do Prêmio Camões, Paulina Chiziane, que escreveu as agruras de ser mulher em um país marcado pelo patriarcado. Com relatos fortes de como as mulheres se submetem aos caprichos dos homens, com suas inúmeras esposas, seu livro Niketche — uma história de poligamia nos transporta para outra cultura, que nos choca e nos faz pensar.
Outro livro que li e recomendo é o da espanhola Rosa Montero, A ridícula ideia de nunca mais te ver, em que conta sobre a vida da grande Marie Cury. A autora ficou impactada ao ler a biografia da cientista e, em seu livro, ela mescla o processo de luto pelo qual estava passando com a perda do marido à história de vida de Cury, e assim nos confidencia passagens bem pungentes sobre o viver e o morrer.
Outro livro que me pegou pra valer foi Os Supridores, em que o gaúcho José Falero faz uma abordagem da periferia de Porto Alegre, com os personagens Pedro e Marques. É considerado um dos melhores romances do ano, finalista do Jabuti.
Minha lista também tem um dos livros mais impactantes — de sentir na pele, literalmente! O impacto da leitura do Holocausto Brasileiro, de Beatriz Arbex, foi de tristeza e revolta. O livro narra, de forma assustadora e escancarada, o crime que foi o hospital Colônia de Barbacena e que fez mais de 60 mil vítimas, entre eles meu avô paterno, que morreu naquele lugar na década de 60, aos 33 anos.
E, por fim, um livro que me deixou comovido foi o da nossa amiga Selma Cândido Rossi. Com sua singeleza e com temas delicados, como a dor e a morte, faz a sua estreia com muita propriedade, emoção e lirismo.
Desejo boas leituras para você, no ano que vem! E encerro com o poema de Roberto Pompeu de Toledo:
Cortar o tempo
Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente…
Para você,
desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.
Para você,
desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.
Para você neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família esteja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe
desejar tantas coisas
mas nada seria suficiente…
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto, rumo a sua felicidade!
Roberto Pompeu de Toledo
~
Querido leitor, assine seus comentários!
Cara. Que inveja... Neste ano eu lancei três livros e não li nenhum dos três ... Será que já passei dessa fase? Mas, pelo menos ouvi uns 20 áudio book, (ou áudio books?) Muito bons, dentre eles, "veias abertas da América Latina" do Galeano e o Caiballion(sensacional) de autor anônimo, sobre os escritos de Hermes Trimegistos.
ResponderExcluirMas. Até que escrevi bastante. Vi um filme sobre o "tratamento" psiquiátrico nos hospitais de Barbacena(chocante), li uma reportagem sobre a escritora africana que você mencionou... E só. Mas, enfim, o homem da Flis é você. Normal estar tão mais culto . Grande abraço, meu caro.
Silas Fonseca
Amigo, ser citada em sua escrita me emociona grandemente. Gratidão!
ResponderExcluirQue indicações de peso nos oferece!
"Para você, desejo todas as cores dessa vida".
Abraçaço
Selma
Túlio,se abrir para o novo, para o recomeço, para a esperança! Suas palavras me despertaram para boas leituras! Abraços
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