CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "Um olhar sobre a Pampulha", texto de José Arcanjo do Couto Bouzas
UM OLHAR SOBRE A PAMPULHA
JOSÉ ARCANJO DO COUTO BOUZAS
Membro-fundador
da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira
6. Patrono: Arthur Lobo
Em 1928, o arquiteto Flávio de Carvalho
apresentou um projeto de construção da Reitoria da UMG, hoje UFMG, que foi
recusado, tendo em vista a modernidade de sua forma arquitetônica, insolente
para a época. Carlos Drummond de Andrade defendeu o projeto, e, com ele,
Rodrigo Mello Franco, Anísio Teixeira, Abgar Renault, Mário de Andrade, o
sabarense Aníbal Machado e o Ministro da Educação Gustavo Capanema, todos abertos
à mudanças, como Juscelino. Minas perde a oportunidade de ser o primeiro
cliente institucional da arte moderna, para o citado Ministério.
Lúcio Costa é convidado para executar o
projeto do MEC - Ministério da Educação e Cultura, e com ele estava o jovem
Niemeyer, que viria dar forma aos sonhos de Modernidade de JK. O ilustre médico,
filho de Diamantina, o Nonô de D. Júlia, assume a Prefeitura de Belo Horizonte,
em 1940, preparando a cidade para que ela se tornasse um espaço social moderno
e ativo.
BH
torna-se, assim, o lugar de formação de uma consciência revolucionária.
Juscelino,
que desejava uma realidade mais humana na capital de Minas, dizia: “Um prefeito
não deve pensar tão somente em coisas práticas. A beleza sob todas as formas
precisa fazer parte de suas
cogitações. Numa cidade vivem massas humanas que sentem que são capazes de
emoções e que, portanto, não prescindem de estimulantes espirituais”.
É
nesse sentido que o projeto arquitetônico da Pampulha tornou-se um elemento de
revolução, do projeto de Kubitschek. Se “a beleza sob todas as formas”
precisava fazer parte das cogitações diárias de um prefeito, fica evidente,
naquele enunciado, que a arte deverá então — enquanto criação subjacente da
pessoa humana — retornar à vida do cotidiano da cidade e se tornar um elemento
mediador entre o homem e o mundo.
"A
arquitetura que entendemos por moderna nem sempre era considerada obra de arte,
porque seria destituída de uma intenção plástica. Foi verdadeiramente na
Pampulha que Oscar Niemeyer Soares Filho, nascido em 1907 no Rio e formado em
1934 pela Escola Nacional de Belas Artes, se realizou como arquiteto. Foi na
Pampulha que ele mostrou, pela primeira vez, a possibilidade de moldar
artisticamente o concreto armado. É nesse sentido que o próprio edifício do
Museu de Arte Moderna é uma obra de arte, enquanto objeto histórico da
arquitetura modernista brasileira. Curvas com certa volúpia vão delimitando
espaços próximos daquele do barroco de Aleijadinho, conseguindo o rompimento da
tradição das paredes retas, vãos maiores e as equações das curvas..." (Lemos,
1983)
Entretanto,
o Museu de Arte da Pampulha não é um edifício isolado, sua leitura não se faz
em separado do todo. Na paisagem do conjunto Arquitetônico da Pampulha, interagem-se
o Museu, a Casa do Baile, o Iate Club, a Igrejinha de São Francisco, todos se
refletindo sobre as águas do lago.
Com
a construção da Pampulha, vieram para Minas artistas, arquitetos e críticos de
arte, para participarem do projeto de Kubitschek. Assim, a cidade ganhou o
convívio da presença de artistas modernos, revolucionários como Niemeyer,
Portinari, Burle Marx, Ceschiatti, Santa Rosa, Alcides da Rocha Miranda, e
outros. E a arte se transformou, na sociedade local, em um dos poderosos agentes
de mudança. A construção do conjunto arquitetônico da Pampulha tornou-se o
paradigma crítico, não só de um novo modo de arquitetura, mas de uma visão nova
do mundo.
Ivone
Luiza Vieira, em cujo texto de dissertação de Mestrado me inspirei para
escrever este artigo, nos informa que José Lins do Rego, quando viu a Pampulha pela
primeira vez em sua visita a Belo Horizonte, a convite de Kubitschek, em maio
1944, assim se expressou:
“E a Pampulha, o que é afinal? É uma
revolução vitoriosa. Ao bom estilo inglês, sem guilhotina, sem muro de
fuzilamento, sem forca. Há um arquiteto, um rapaz pequeno, de olhar terno, de
gestos contidos que realiza essa revolução arquitetônica: Niemeyer, que tem uma
inteligência de diabo vivo! E há Kubitschek, o prefeito de Belo Horizonte.
Houve quem dissesse que tremeria a pedra sabão, que viriam abaixo os monumentos
do barroco. A pedra sabão e os monumentos continuam onde estão, grandes e
belos, e a Pampulha existe em pleno esplendor de sua grandeza. À noite aquilo
parece das mil e uma noites. As águas se tingem de luzes misteriosas. De dia é
aquela maravilha de simplicidade, tudo feito e realizado em relação com o
homem. Niemeyer agiu com toda a liberdade, com esta liberdade que é criadora de
arte.”
Bem instrutiva a exposição. Parabéns Sr. José Bouzas e obrigado.
ResponderExcluirMaravilhosa contribuição!
ResponderExcluirParabéns, grande Professor José Bouzas.
ResponderExcluirSempre é bom ter conhecimento.
Muito bom o texto...
ResponderExcluirPampulha, "a beleza sob todas as formas" junto a natureza...
Abraço, Zezinho!
Glaura
Ótimo artigo, parabéns Zezinho! 👍👍
ResponderExcluirSelma
Como é bom aprender,não?! Adoro o equilíbrio entre Natureza e Arte tão bem traduzida na Pampulha,Bouzas! Parabéns seu texto foi uma verdadeira aula, mais me encantar eu,então! Abraços!
ResponderExcluirtraduzido/Parabéns!/encantarei* (quase apago e reescrevo,amigos...esse corretor abestado faz cada uma!!!!!Rsrsrsrs! Mônica Granja
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