CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "A natureza marca", texto de Túlio Damascena

 A NATUREZA MARCA

TÚLIO DAMASCENA

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 16. Patrono: José Patrício

 

Tenho pensado muito num chavão futebolístico: “esse, a natureza marca”. Ouvi a frase a primeira vez já faz alguns anos. Meu pai, Joaquim Damascena, era presidente de um clube de futebol amador aqui na cidade de Sabará, e os domingos pela manhã eram uma festa. Com jogos em horários desumanos, para não dizer outra coisa, saíamos de casa às dez da manhã, pois as onze já começava a peleja. E, em outras rodadas, o jogo começava às treze, e também tinha rodadas às quinze. Era o momento de ficar na arquibancada, comer coxinha, tomar refrigerante e, antes de ir embora, ainda tinha de comer pastel, para atrapalhar o almoço de vez.

A equipe de meu pai era a 17 de Julho (em homenagem ao aniversário da cidade) e o time principal era muito familiar: dois irmãos zagueiros, o terceiro irmão meio-campista, e o outro reserva na lateral esquerda. Meu pai, presidente, e mais alguns amigos fizeram um time memorável, com quadros no júnior, amador e também no sênior. E o 17 de Julho jogou de igual a igual com vários clubes tradicionais da cidade, como: Montanha, Viterbo, Farol, Comercial, Santa Cruz, Botafogo, Bom Retiro, Flamenguinho, Rosário, entre outros.

Nas arquibancadas do Campo da Liga, do Siderúrgica, do Campo de Roça Grande, ou encostados na tela do Ferroviário, do campo do Bom Retiro, a alegria era geral. Assisti àqueles jogos com a nossa torcida em peso (que às vezes queria ter uma conversa mais séria com o juiz), uma torcida que nunca afinou, para nada.

Lá que ouvi pela primeira vez a expressão: “esse, a natureza marca”. Significa que o adversário não precisa se preocupar com a habilidade desse jogador, pode focar em outro, pois esse vai tropeçar na bola, vai escorregar na grama e vai devolver a pelota para o time adversário sem nenhuma ação mais contundente; por si só, ele “vai entregar a rapadura”. E era um xingamento muito frequente, em todos os jogos havia um que, dominando a bola na canela, já era.

Eu tenho pensado nessa expressão e trazido para a minha realidade. Vi que a natureza tem me marcado, muito mais que qualquer zagueiro, dos melhores da Europa. Desde 2019, tenho pensado no que aconteceu comigo e pensado nessa expressão, “a natureza marca”.

Em 2020, com essa pandemia que nos obrigou a redobrar os cuidados, trabalhando de casa, proibidos de tomar uma gelada nos bares da vida, a natureza continua nos marcando.

Em 2021, aguardando dias melhores, também vivemos, agora com um pouco mais de esperança, pois a vacina está chegando (em conta gotas, mas está chegando). Depois, vamos nos aprofundar mais, e descobrimos, entre outras coisas, que, se continuarmos nesse ritmo, conseguiremos vacinar toda a população no terceiro trimestre de 2022 (na mais otimista das previsões), e, com essa demora, novas cepas poderão surgir e talvez a vacina não terá poder de conter o vírus.

Essa geração será lembrada para sempre como “esses, a natureza marcou”, pois no fundo falta energia e habilidade para lidar com todos esses acontecimentos, com a disparidade de oportunidades e ainda com a crescente desigualdade social e com os transtornos que toda essa situação acarreta.

Do jeito que a coisa está indo, a natureza marcará de vez nossas ações. Não precisamos de inimigos. A passagem do tempo e todos esses acontecimentos já irá nos marcar para sempre, e vamos entregar a bola para o adversário, sem que ele faça nenhum esforço para tal.

 




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Comentários

  1. Meu amigo, que texto! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻A natureza marca mesmo. Falta sim, energia e habilidade, mas lá no fundo de nós uma centelha de esperança insiste em dizer que dias melhores virão, e mais uma vez a natureza marcará.

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  2. Uai... E eu pensando em passar a bola pra você... E agora? Quem poderá me defender? Em todo caso, antes Túlio que nada! Abobrinhas à parte, este chavão do 17 de julho está mais que atual. Texto com o padrão de qualidade Túlio Damascena de ser. Parabéns!



    Silas Fonseca

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  3. A Natureza tem nus marcado inapelavelmente, senão vejamos! Os desastres provocados pelo ser humano tais como Mariana e Bruna Dinho, me sobra dúvidas, muitas dúvidas, Se esse Virus MALDITO vírus tbm não foi provocado em Rhuam na China!E ai é a Natureza ou a Maldade é Ganância pelo Poder?

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  4. Que texto! Vi exemplificado o que sinto.

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