CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "Saudade do Futuro", texto de Marla de Paula Branco
SAUDADE DO FUTURO
MARLA DE PAULA BRANCO
Membro-fundador da Academia de Ciências
e Letras de Sabará
Cadeira 12. Patrono: Guiomar Guimarães Orsini
Gosto de
viver... E gosto de viver o presente. Sempre fui adepta do "um dia de cada
vez", da "construção cotidiana" e, sendo mulher, mãe, esposa,
dona de casa, professora, se tivesse opção faria, de forma completa, uma coisa
de cada vez... E viveria a hora presente, o minuto presente, para que nenhum
sorriso dos filhos me passasse despercebido, muito menos uma lágrima. Para que
o pôr do sol fosse parada obrigatória para exercitarmos todos juntos a
contemplação. Ser uma pessoa multitarefa é um desafio, e, apesar de muitos
exaltarem essa habilidade, o contexto cotidiano sempre ressalta, muitas vezes
de forma natural, alguma prioridade a ser observada nesse conjunto.
Como
mulheres, temos o conceito de sermos capazes de fazer várias coisas ao mesmo
tempo. Entretanto, muitas vezes, juntamente com a nossa capacidade vem a
realidade da rotina que nos leva a essa atuação. Então fazemos, surpreendemos e
somos surpreendidas. E, quando acontece a possibilidade de desacelerar a rotina,
vemos a oportunidade real de concentrar e dedicar de forma mais peculiar ao que
nos move.
Gosto de
viver... E gosto de viver o presente. Mesmo o presente sufocante e limitador em
tempos de pandemia, que tem provocado uma saudade dos encontros de família,
festas, viagens, eventos... Quanta saudade dos festivais de dança, que têm o
poder de mobilizar centenas de pessoas entre produção, equipe técnica,
bailarinos e bailarinas, familiares, colaboradores culturais, plateia, para na
culminância de toda preparação termos o privilégio de vivenciar o momento do espetáculo
no palco que fica para sempre registrado na memória e no coração.
Saudade é uma palavra do nosso léxico que não
há uma tradução exata em outros idiomas. São peculiares os contextos nos quais
a empregamos... Saudade de alguém que não vemos há muito tempo, de um lugar que
visitamos e a que desejamos voltar, da infância de nossos filhos, e a usamos
para definir aquele sentimento que nutrimos às pessoas queridas que já se
foram. O nome de meu pai é "Saudade", de tudo que vivemos com ele,
que perpetua, e de tudo que ele fez no breve tempo que esteve aqui. Grande
Milton... E a saudade é necessária para manterem vivas todas as memórias e
registros emocionais da vida que vai se movimentando naturalmente. Minha mãe,
perseverante, é continuamente atuante na conservação da lembrança dos momentos
com ele, que construíram nossa memória e que alimentam a saudade. Grande
Sônia...
Gosto de viver o presente e valorizá-lo como
oportunidade única. Mas tenho dividido a atenção com o futuro. Uma saudade do
futuro tem me visitado e me feito bem, apurando meu olhar, alimentando meu
coração. Existe sensação melhor que olhar para frente com esperança? Se hoje a
felicidade não está completa, pelo olhar fraterno e empatia necessária do
momento, ela está ali... No futuro... Sem a ingenuidade frágil que desqualifica
o pensamento e as palavras, tenho buscado ressignificar a rotina e posso
afirmar: Cresci... E meu olhar no presente, de que gosto tanto, me projeta para
o tempo que virá, e gosto também do que vejo lá... Possibilidades...
Viver é bom.
Pois é, Marla: Com certeza, você representou com o seu texto, entre nuances de ternura, realidade e sonhos, a esperança que alimentamos a cada dia de ganharmos o futuro de presente e o direito de lembrar o passado como um bom motivo pra celebrar e agradecer. Parabéns ! Silas Fonseca
ResponderExcluirAmei seu texto,fadinha!
ResponderExcluirVocê traduziu em palavras meu modo de viver,também! Presente no presente! Recordando o passado e sonhando com o futuro!Em suma, vivendo! Bjos!!!Mônica Maria Granja Siva
Linda narrativa! Simples e curta, porém com o sabor do presente e a esperança de um futuro melhor. É disso que estamos precisando. Viver, viver e não ter a vergonha de ser feliz!
ResponderExcluir