BERNARDO E. LOPES, ESCRITOR E PRESIDENTE DA ACADEMIA DE CIÊNCIAS E LETRAS DE SABARÁ
DISCURSO DO PRESIDENTE BERNARDO E. LOPES
Hoje
vamos começar pelo fim. Que o fim gera medo, não restam dúvidas. Por isso, o
ser humano sempre tenta evitá-lo.
E,
acredite ou não, quando algo precisa chegar ao fim para que algo novo se
inicie, a vida dá sinais. O corpo dá sinais. Não é mesmo? As instituições dão
sinais. O que dizemos, e como dizemos,
dão sinais.
Há
muito tempo que venho ouvindo sinais de Sabará. Sinais de que muito se quer
fazer, mas pouco é feito. Sinais de que temos muito a oferecer ao mundo, e
aprender com o mundo, mas algo nos impede.
Tanto a Ciência quanto a Literatura mostram
onde estamos. Elas indicam para onde podemos ou devemos ir, e analisam de onde
viemos.
Os
sinais são dados, e a Ciência se prontifica a repará-los, para minimizar os
danos.
Já a
Literatura registra esses sinais, e também os seus efeitos; o que fomos como
seres pensantes, e o que nos tornamos.
Me
permitam contar a vocês uma história sobre sinais que eu não queria ouvir.
Alguns
meses atrás, eu estava infeliz com meu trabalho. Durante 9 anos, fui
exclusivamente professor de Língua Inglesa, até que fui promovido, e passei a
enfrentar um grande desafio: eu deveria sair da sala de aula, onde aprendi tantas
coisas maravilhosas, para me sentar num escritório sem janelas.
Toda a
troca com meus alunos, por mais dura e selvagem que a sala de aula às vezes
seja, foi substituída pelo contato cara-a-cara com a tela de um computador.
Para alguns, isso não seria um problema. No entanto, os professores aqui
presentes bem sabem: há algo de muito forte e pulsante na relação com os
alunos. É um desafio diário. Cansados, a gente segue lutando. Apaixonados,
sofremos quando não conseguimos. Desmotivados, ameaçamos nunca mais voltar. E
voltamos. Porque existe vida ali, uma fonte que não se esgota. E nessa fonte
podemos matar a nossa sede e a sede da humanidade.
Sem
essa busca contínua, a insatisfação bateu à porta do meu escritório sem
janelas. A minha função tinha um lindo propósito, mas eu não estava ali. ¿Como
aceitar que um posto que eu tinha desejado tanto
não me trazia a felicidade esperada? Como voltar atrás sem parecer fraco?
Afinal, se eu cheguei até aqui, não é aqui que eu deveria ficar? A resposta era
não.
E o
meu corpo começou a dar sinais. Tudo ao meu redor dava sinais. O que eu dizia,
e como eu dizia, me davam sinais.
Mas eu
não queria ouvir.
Ninguém
me dava uma resposta que parecesse certa. Na verdade, eu já tinha essa resposta, mas não confiava no
que eu sentia. Ignorei os sinais, externos e internos, e continuei sofrendo.
O
sinal decisivo veio através do maior amor de toda a minha vida: A Literatura.
Era
uma quarta-feira. Acordei angustiado, com um nó na garganta. No dia seguinte,
eu voltaria ao trabalho depois de um breve recesso. A dúvida me consumia. ¿O
que eu deveria fazer: sufocar minha insatisfação e seguir no mesmo caminho, ou
apenas me despedir e procurar novos rumos?
Naquela
tarde, recebi em casa dois livros muito aguardados comprados pela Internet, um
deles escrito em 1951, e o outro em 2011. Eles não tinham relação entre
si; eram dois romances, mas de nacionalidades e tipos diferentes. Eu nem ia começar a leitura imediatamente.
Mas quem ama o toque e o cheiro dos livros não resiste em dar uma espiadinha.
E, assim, eu decidi ler a primeira página de um deles, o de 1951.
Eu me
paralisei com o título do primeiro capítulo. Em letras garrafais, lia-se: O FIM SE INICIA. E o primeiro parágrafo
ainda destacava: abre aspas: "Quando um dia que você bem sabe ser
quarta-feira começa com a sensação ruim de domingo, há algo seriamente errado
acontecendo"; fecha as aspas.
Mas o
ser humano é uma criatura teimosa. Eu precisei abrir o segundo livro, o de
2011, para novamente me surpreender com o primeiro capítulo. O título era: O FIM COMEÇOU.
Dois
livros, que até então não tinham nenhuma relação entre si, foram a ferramenta
para me alertar: era hora de eu me acalmar para
o fim.
E é
isso que todos nós estamos vivendo aqui hoje.
O Fim
é libertador. É translúcido. Ele deixa a luz enfim passar. E, na dúvida, não é
a luz o que a gente sempre procura? O fim da cegueira; o início do novo olhar.
De uma nova vida.
O Começo.
Este é
o começo de um novo desafio, envolvendo Ciência e Literatura. Esses dois
pilares mantenedores de nossas vidas pavimentam o caminho: a Ciência nos
ajustando, a Literatura nos registrando.
A
escrita é a documentação do que vivemos e de como vivemos, registros deixados
pela humanidade para a posteridade. E assim, cada vez mais, nossos arquivos,
bibliotecas e também a Internet disponibilizam o tesouro que é o nosso
conhecimento.
E esta
escrita é uma das nossas missões. Juntas, Literatura e Ciência são capazes de
reconstruir o mundo. E é para embarcar nesta caminhada que todos vocês, membros
fundadores da Academia de Ciências e Letras de Sabará, hoje, no dia 12 de
dezembro de 2019, estão aqui, no Teatro Municipal. Para abrirmos novos caminhos.
Para trazermos à tona toda a potência cultural que existe nesta cidade, e assim
promover conhecimento.
Agradeço
à minha querida amiga Ana Maria Guerra Machado e à Faculdade de Sabará por
encabeçarem este movimento intelectual. Agradeço também à Prefeitura Municipal
de Sabará pelo apoio e incentivo.
Hoje, eu
tenho uma convicção inabalável: o mundo aguarda pelas nossas vozes. É hora de
libertar a força cultural que emana de Sabará. Como indica Napoleon Hill em seu
livro A Lei do Triunfo, formaremos
uma aliança com o objetivo de fundir este poder, em benefício não só dos
membros dessa instituição, mas de toda esta linda e apaixonante cidade.
Queremos
Sabará no mundo e o mundo em Sabará.
E eu
convido a todos os nossos amigos, familiares, autoridades e convidados aqui
presentes a fazer parte disso. Que não tenhamos medo.
Eu os
convido para o Começo.
Bem
vindos.
Muito
obrigado.
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DIRETORIA (2020-2021) Sofia Rodrigues, Rodrigo Cabral, Ana Maria Guerra, Bernardo Lopes, Ana Paula Cruz e Mônica Granja |
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