"O reinado do Rosário", de Rodrigo Cabral

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 15. Patrono: Joaquim Sepúlveda

O REINADO DO ROSÁRIO

“Me dá licença pra entrar nesse santuário...”

Esse pedido está numa canção entoada por grupos de congado num ritual de respeito e reverência, assim que pisam o solo sagrado das igrejas católicas que visitam.

Em Sabará, esta manifestação cultural e religiosa tem presença marcante na festa de Nossa Senhora do Rosário, celebrada no mês de agosto.

A centenária e icônica igreja de pedra, como costumamos chamar esse cartão postal da cidade, ganha sons e coloridos diferenciados. Crianças, jovens e idosos se apresentam com capas, chapéus, lenços e fitas. Carregam bandeiras, espadas e coroas. Cantam e dançam ao som de tambores, caixas, chocalhos, pandeiros, sanfonas e apitos.

 

Tá caino fulô, ê tá caino fulô

Tá caino fulô, ê tá caino fulô

Lá do ceú, cá na terra, ê tá caino fulô...

 

As letras dos cantos celebram a fé e a devoção também a santos negros, como Santa Efigênia e São Benedito.

 

Que santo é aquele

Que vem no andor

É São Benedito

Enfeitado de flor

 

É conga, é conga, é congada

Bate marimba e tambor

Vou pegar minha espada

Que eu também sou lutador...

(“Congada”, Clara Nunes)

 

As primeiras celebrações do Congado em Minas Gerais remontam ao século XVIII. Estavam fortemente associadas às irmandades de Nossa Senhora do Rosário, que proporcionavam espaços de pertencimento, resistência e preservação cultural para os escravizados e libertos. Elementos da fé católica se juntaram a práticas e simbolismos africanos.  A coroação de reis e rainhas negros era uma forma de reafirmar a dignidade e a importância da cultura do povo preto na sociedade colonial.

Assim, os congados ou congadas atravessaram mais de 300 anos de História e, em junho deste ano, foram reconhecidos como patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Minas Gerais concentra quase 90% desses grupos, símbolos de resistência e fé. O Iphan identificou mais de 300 municípios com registro de congados, marujadas e reinados, além de 700 festas e mais de mil irmandades do Rosário.

Sabará conta com diversos congadeiros que, todos os anos, desfilam com seus trajes típicos e instrumentos musicais pelas ruas do centro histórico, em cortejos carregados de muita fé, devoção e uma alegria contagiante.

Aqui, a Festa de Nossa Senhora do Rosário é tão tradicional que se tornou Patrimônio Cultural Imaterial do município. Os grupos de congado sempre participam das celebrações na igreja e das procissões. Se juntam ao rei e à rainha de cada ano, às tradicionais mucamas e devotos e, assim, preservam a História e a identidade afro-brasileira.

Viva os congados!

Viva a cultura brasileira!

Viva Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito!

 

Sinhô rei, sua rainha

Oi, não deixa seu povo chorar

Oi, não deixa a coroa cair

Oi, não deixa essa festa acabar.

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