"Reflexão sobre a compreensão de textos em múltiplas fontes", Darsoni de Oliveira Caligiorne

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 29. Patrono: Alzira Umbelino


Reflexão sobre a compreensão de textos em múltiplas fontes


Para ensinar alunos a usarem a internet como fonte de informações e ajudá-los a serem leitores eficientes, também em ambientes digitais, é preciso entender que a leitura on-line exige do sujeito habilidades para navegar e para ler, usando e conectando múltiplas fontes, hipertextualmente conectadas. Ler neste ambiente é, essencialmente, uma atividade investigativa, de busca, de seleção e de articulação de informações.

Levando em consideração essa ideia, entende-se que leitores de múltiplas fontes fazem leituras sobre o mesmo tópico em textos diferentes, projetados em gêneros diferentes, e por diferentes autores que apresentam suas ideias de diferentes perspectivas. Realizam tarefas diferentes ao mesmo tempo, ou lidam com mais de uma mídia simultaneamente.

Vários autores, como Leu, Leu e Coiro (2004), Jenkins (2009), Wiley et al. (2009), Braten, Stomso (2011), Hobbs (2011), Azevedo (2013), Goldman et al. (2013), entre outros, defendem que, para desenvolver habilidades para lidar, eficientemente, com informações provenientes de múltiplas fontes, os leitores precisam desenvolver habilidades fundamentais que se podem organizar em três categorias: localizar e avaliar informações, sintetizar e integrar informações, e refletir sobre as informações.

A leitura em múltiplas fontes (vários textos) é diferente da leitura de uma fonte (um texto) só, já que se espera que o leitor, na leitura de textos de diversas fontes, construa um modelo mental integrado (BRITT; ROUET, 2012), que represente a compreensão e sua forma de articulação de informações destes textos, que ele julga pertinentes para o objetivo de leitura. Fazer essas conexões na leitura de múltiplos textos, como deve acontecer na internet, pode oferecer mais desafios do que no caso da leitura de um texto único, em que as relações entre as partes são sinalizadas pelos autores. Esta sinalização, normalmente, não existe entre múltiplos textos, uma vez que eles costumam ser escritos por autores diferentes, em momentos distintos e sem o objetivo de compor um todo; sendo assim, os leitores precisam inferir e construir estas conexões (GOLDMAN, et al., 2012). Por isto, Goldman et al. (2012) reforçam a importância do monitoramento metacognitivo da compreensão, por parte do leitor, para fazer boas escolhas sobre o que vai ler.

De acordo com Cho e Afflerback (2015, p. 504): “uma leitura bem-sucedida na internet requer a tomada de decisões estratégicas sobre quais textos ler e sobre a sequência da leitura destes textos, tudo de acordo com os objetivos do leitor”. Bons leitores participam, ativamente, no processo de reconhecimento e de “construção” de textos para alcançar as metas (CHO, 2014). Eles decidem quando aceitar ou rejeitar um link e quando se envolver na leitura de textos, determinando assim uma boa sequência na leitura dos textos on-line. A internet possibilita uma movimentação mais livre entre os textos e as fontes de informação por parte do leitor, que acaba construindo, com as escolhas, o percurso de leitura. Este processo, no entanto, demanda que os leitores façam sofisticados julgamentos da utilidade dos links e dos textos antes de acessá-los, e que os leitores sejam capazes de modificar seus planos originais, em resposta aos espaços de informação acessados. Isto requer uma hábil improvisação por parte dos leitores, que podem ter recursos limitados para a compreensão, tanto cognitiva (ex.: falta de conhecimento prévio) quanto textual (ex. quantidade insuficiente de informação coletada) (CHO, 2014, p. 281). Cho lembra também que estratégias de associação de informação como comparar, contrastar e relacionar, por exemplo, são usadas pelos leitores para o estabelecimento de uma articulação entre as informações e para construir metas representações dos múltiplos textos, que eles exploram e/ou confrontam. Os estudos realizados (CHO, 2014) mostram que essas estratégias para a construção de sentidos intertextuais são fundamentais para o sucesso da leitura na internet.

Como se pode ver, a leitura on-line não é um processo natural que todos aqueles que lidam com ambientes digitais são capazes de fazer sem ajuda e sem orientação.

Sabendo que a leitura de múltiplos textos, como a que costuma ser exigida pela internet, é parte do cotidiano dos alunos e que os alunos não dominam essas habilidades (como se pode constatar em COIRO et al., 2015), precisa-se pensar em formas de ajudá-los a processar as informações encontradas. Braten e Stromso (2011), em um estudo sobre estratégias de compreensão de múltiplos-textos, mostram que os alunos alcançaram melhor compreensão dos textos quando receberam instruções e informações explícitas, por parte do professor, sobre o propósito da leitura e sobre a tarefa a ser realizada, e quando receberam uma orientação sobre a necessidade de monitorar as estratégias de leitura.

Algumas das estratégias usadas pelos sujeitos, elencadas por Braten e Stromso (2011), e que são desejáveis por apresentarem resultados positivos na compreensão dos textos são:

comparar o conteúdo dos diferentes textos;

observar divergências entre os textos;

descobrir a relação entre o conteúdo dos diferentes textos;

encontrar ideias recorrentes em vários textos;

considerar se os textos apresentam visões contraditórias sobre o tema;

considerar se diferentes explicações sobre o tema podem ser conciliadas;

comparar diferentes explicações sobre o tema;

• resumir o conteúdo dos diversos textos.

 

Referência:

COSCARELLI, C. V. A leitura em múltiplas fontes: um processo investigativo. Ensino e Tecnologia em Revista. UTFPR, Paraná. v. 1, n.1, 2017. Disponível em: https://periodicos.utfpr.edu.br/etr/article/view/5897/4411 Acessado em 21/07/2020




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