CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "Envelhec(s)er", de Cláudia Guimarães Costa

ENVELHEC(S)ER

CLÁUDIA GUIMARÃES COSTA

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 13. Patrono: Hélio Costa


Em 2022, mais precisamente no mês de maio, completei 50 anos de idade, uma marca na vida de muitas pessoas, o que não é — nem está sendo — diferente para mim. Independente desse marco temporal, meu corpo e mente vêm dando sinais (há tempos) de muitas mudanças, as quais vou listar aqui como forma de demonstrar umas das muitas transformações que a MATURidade tem me proporcionado.

Como mulheres, desde muito novas, somos “ensinadas” a sermos discretas, e que não devemos falar sobre as mudanças/transformações naturais e fisiológicas que ocorrem conosco. A primeira grande mudança na vida de uma mulher é a menarca, um evento que determina uma das grandes alterações em nossos corpos. Apesar de passarmos por isto todos os meses de nossa vida reprodutiva, a menstruação é entendida como algo ruim, para a maioria das pessoas. Aprendi com a idade que sim, menstruar é necessário, saudável, e deve ser encarada com naturalidade. A partir da menarca nosso corpo muda, cresce, se transforma! Uma mudança física e fisiológica que começa a nos preparar para gerar outras vidas. Isso é lindo, isso é mágico; isso é saúde!

Hoje eu compreendo bem melhor tudo isso, mas muitas jovens sofrem com esse momento conturbado, sem entender o que acontece com seus corpos e os efeitos borbulhantes dos hormônios.  E acredito que, por não entenderem bem essas mudanças, estão, quase sempre, insatisfeitas com seus corpos e se escondem.  Essa fase da vida renderia muitos outros textos, mas o foco aqui é algo que acontece algumas décadas após a menarca. Acredito que, caso as jovens meninas se constrangessem menos, tudo seria mais fácil para elas — se tivessem mais coragem de se mostrar, e se dividissem entre elas as mazelas dessa fase. Esta eu considero como a minha grande primeira mudança: quando, mais tarde, me descobri no climatério e já sentia seus sintomas, falava abertamente sobre isso, percebendo inclusive o constrangimento das pessoas, como se tocasse em um assunto proibido, inapropriado.

Inevitavelmente, o tempo passa, e ele é implacável! Essas transições, no corpo e na mente, acontecem mais cedo ou mais tarde. Pelo que vivi até agora acredito que todas as fases pelas quais passamos deveriam ser vividas com mais leveza, mais consciência e, principalmente, mais aceitação. O climatério, a pré-menopausa e a menopausa devem ser encarados como períodos importantes e inelutáveis da vida da mulher, assim como a menarca.

A menopausa, por si só, já é uma etapa da vida da mulher que traz uma grande renovação. Mesmo para aquelas que optaram por não ter filhos, somente por não haver mais a opção de mudar de opinião, já é muito pesado, marcante e, de certa forma, um pouco deprimente. Sim, as mudanças hormonais podem causar alterações de humor. Pois bem, acrescente isso tudo a um turbilhão hormonal, uma mudança radical nos hormônios que podem ser considerados tão abruptos quanto no puerpério. As mulheres sabem o quanto os hormônios dominam e controlam suas vidas.

Estou escrevendo a respeito pois acho importantíssimo formarmos uma rede de apoio, assim como acontece ou deveria acontecer, por exemplo, no puerpério. Falarmos sobre nossas aflições, dores, sintomas, nos ajudam a lidar com essas mudanças. Entretanto, nada disso parece funcionar se não houver aceitação.  O processo de envelhecimento é um caminho sem volta. Não adianta querermos ser eternamente jovens, apesar de sermos constantemente cobradas para que isso aconteça.

Somos o tempo todo bombardeadas com as “leis da ditadura da beleza”, independentemente da idade, com parâmetros cruéis e modelos impossíveis de serem alcançados na vida real. Penso nas jovens adolescentes com seus corpos em plena mudança, mas, infelizmente, não somente elas são vítimas, como também as puérperas, as maduras e as idosas. Todas nós somos levadas a acreditar que a beleza está no tamanho do manequim, na cor da pele, do cabelo, dos olhos e nos músculos evidentes. E, levadas por essas crenças, várias mulheres passam boa parte de sua vida insatisfeitas consigo mesmas. Assim, seguimos alisando cabelos, usando lentes, fazendo procedimentos cirúrgicos, dietas loucas, e vivemos na academia. O pior é que, quase sempre, o resultado desejado não é alcançado.

O primeiro passo para vivermos melhor é a aceitação! Esse foi meu grande segundo aprendizado. Somente há alguns anos eu percebi que, pela primeira vez, fui à praia sem pensar em esconder meu corpo. Eu me sentia bem, mesmo não estando na minha melhor forma física, eu estava serena e me sentindo ótima. Acho que esse “perdão” inconsciente de mim para comigo mesma, no qual eu me permitia ser eu sem modelos, sem regras, sem rótulos, simplesmente sendo eu, livre, leve e solta, já era efeito da maturidade e da descoberta de que eu não tenho que ter a aprovação ou autorização de ninguém, a não ser de mim mesma.

Logo em seguida veio a pandemia, o isolamento social, e eu consegui me livrar de mais um item da ditadura da beleza: pintar os cabelos! Sempre tive alguns cabelos brancos — desde os 23 —, que obviamente aumentaram com o tempo e a idade. Durante a pandemia, decidi deixar que as minhas raízes brancas se tornassem meus cabelos limpos, sem química! Ah, que libertação! Que sensação maravilhosa! Confesso que precisei da “ajuda” do isolamento e, consequentemente, não ter ninguém para me desencorajar. Além de não os pintar mais, eu os cortei curtos! Ainda hoje recebo críticas, mas elas não mais me afetam; pelo contrário, já não tenho o menor constrangimento em dizer que permanecerei assim. E essa é a mais clara prova do quanto somos massacradas pelas leis da ditadura da beleza. Explico melhor: Por que pode parecer ao outro que, ao pintar o cabelo, eu vou parecer mais bonita? Ou mais vaidosa? Pois são esses os comentários que muitas vezes acompanham os questionamentos do tipo, “Você não vai mais pintar os cabelos?” Ou simplesmente, ao andar na rua, percebo o olhar — meio de reprovação — na direção dos meus cabelos.

Minha outra descoberta é esta: eu me aceito e me vejo diferente, sendo eu, com todo o aprendizado que acumulei durante o meu – muito bem vivido – meio século de vida. Sou o resultado de todas as relações pessoais, afetivas, profissionais e do autoconhecimento que adquiri nesses 50 anos! E me sinto viva, me sinto linda (mesmo tendo total consciência de que não me enquadro nos padrões de beleza), me sinto eu, me sinto completamente apaixonada por mim! Que venham mais 50!

Uma grande alegria desses tempos é perceber que, assim como eu, várias mulheres maduras têm se aceitado melhor e encorajado outras muitas a fazerem o mesmo! A rede de apoio só aumenta! E uma dica maravilhosa que adotei em minha vida é que, independentemente da fase ou etapa da vida em que você se encontra, aceite-se! Caso seja difícil, a minha sugestão é que a gente deve respeitar as diferenças! Ao respeitá-las entendemos que os padrões de beleza podem existir, mas com a imensa diversidade existente. Todos nós temos nossa beleza, nossas experiências, nossas marcas, nossa vida. Ao pensar assim, fica mais fácil fugir dos padrões estéticos inalcançáveis. Afinal, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.

Permaneço jovem, com a cabeça aberta para as mudanças do mundo, as quais espero que sejam muitas — para melhor, é claro! Recentemente li a coluna da jornalista Bebel Soares (“Padecendo no Paraíso”): “Por dentro eu sigo muito jovem, muito aberta para as mudanças do mundo! Estou deixando de lado o juízo de valor, aquele julgamento baseado nas minhas percepções individuais. Não quero conservar nada! Sigo querendo quebrar todos os padrões. Me libertar de todos os preconceitos, ficar bem velhinha, no meu juízo perfeito e sem juízo nenhum.”

A melhor e maior mudança que veio com a maturidade está na simplicidade de ter total e plena consciência do que quero, do que amo, do que não tolero e do que não admito! Aprender a dizer não, sem medo do que possa acontecer depois, é se libertar!

Ame-se e respeite-se! Respeite as diferenças e viva a diversidade! Cuide-se com amor e tenha uma vida saudável! Envelhecer é um privilégio! Envelhecer se permitindo e se aceitando nesse processo inevitável é libertador! Viva a sua vida com dignidade, plenitude e respeito! Todos nós vamos envelhecer e podemos ter certeza de que chegar nesta etapa da vida é um privilégio! Delicie-se! Valorize a mulher que você se tornou, respeite as belezas diferentes. Todos os corpos, de todas as idades, são lindos, cada um do seu jeito, cada um com suas marcas, cada um com suas características exclusivas! Viva a maturidade! Viva a diferença! Viva a diversidade!




~

Querido leitor, assine seus comentários!

Comentários

  1. Viva! E vamos viver. Amei Cacau, já trilhei esse caminho . E continuo nesse privilégio.
    Selma

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lindas, leves e soltas!!! Beijos!

      Excluir
    2. Parabéns minha linda, amei o seu texto e VIVA A MATURIDADE!! Beijos

      Excluir
  2. Percorrer este caminho com leveza e aceitação do jeito que mais lhe convier!.... Com diversidade e com um olhar generoso de si mesmo! Lindo texto!...

    ResponderExcluir
  3. Parabéns a todas que se libertam

    ResponderExcluir
  4. Parabéns, Cacau, meu amor!! Texto lindo! Arrasou! E além de tudo, é motivacional!! Amo você, minha querida e ameeei o seu texto!!!

    ResponderExcluir
  5. Geraldo Sérgio Guimarães11 de julho de 2022 às 10:45

    Texto maravilhoso! Como tudo que se diz respeito a você Cacau! Parabéns querida!
    Amo tudo que vem de você, assim como amo " o todo" em que você se tornou!!!
    Obrigado por fazer parte de meu tudo!!!
    Geraldo Jurema Guimarães

    ResponderExcluir
  6. Prima linda !!Deus te abençoe sempre!!Concordo em tudo que disse pois ,estou nesse time tem alguns anos !!!!!Sou a neta mais velha kkkkk
    Bjoooo e luz no seu caminho!!!❤

    ResponderExcluir
  7. Carissima Cacau!
    Parabéns pelo texto maduro e reflexivo! Apesar dos 50, você continua sendo para nós, seus queridos amigos de longa data, a menina que sorri com os olhos!
    Oxalá vc continue a nos brindar com novos textos maravilhosos!
    Prepare-se pois, "51" é uma boa ideia!
    Parabéns e sucessos!
    Jose Carlos Nogueira

    ResponderExcluir
  8. Parabéns minha irmã! Tenho muito orgulho de vc! Amei o texto! E é isso aí ...vamos VIVER tudo que há pra viver .. ❤️

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada!!! Te amo e seguimos assim, nos aceitando e nos amando!! Te amo

      Excluir

Postar um comentário