CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "Feminismo X Femismo", Cláudia Guimarães Costa

FEMINISMO X FEMISMO

CLÁUDIA GUIMARÃES COSTA

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 13. Patrono: Hélio Costa

“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.”
— Simone de Beauvoir

Sempre tive vontade de escrever algo sobre o tema feminismo, tanto pela sua importância quanto pelo fato de sempre haver confusão entre dois termos: feminismo x femismo. Há também a necessidade de divulgar dados que nos ajudem a entender a urgência de se discutir a esse respeito, independente de gênero.

Antes de qualquer coisa, é preciso definir conceitos. O feminismo é um movimento político, filosófico e social que existe desde o século XIX e que defende a equidade de direitos entre mulheres e homens. O femismo, por sua vez, é um termo que popularmente passou a ser usado para a misandria (“ódio aos homens”, do grego “misos” e “andros”); a misandria pode ser equiparada ao machismo, por se tratar de um posicionamento e comportamento baseado na superioridade da mulher sobre o homem. O chamado femismo, assim como o machismo, prega a construção de uma sociedade hierarquizada a partir do gênero sexual, estruturada, neste caso, sobre um regime matriarcal.

Entendo ser essencial esse debate, principalmente pela necessidade de que haja a correta compreensão sobre o assunto. O feminismo não é o oposto do machismo. A luta pela equidade de direitos, salários, cargos, não significa que, como mulheres, queremos ter uma posição de superioridade em relação ao homem. É exatamente o contrário: o movimento de organização das mulheres visa a combater as diferenças sociais. O que o movimento feminista defende é que todos os gêneros tenham os mesmos direitos e as mesmas oportunidades, de forma justa e igualitária.

Quando avaliamos e analisamos o quanto avançamos em relação às oportunidades concedidas às mulheres nos últimos tempos, pode surgir um ponto de esperança. Entretanto, em uma avaliação precisa, percebemos que ainda temos muito, muitíssimo a evoluir.

Voltar “um pouco” no tempo nos permite relembrar que somente em 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, é que foi permitido à mulher o direito ao voto, durante o movimento sufragista, que, no Brasil, tem como referência a bióloga e pesquisadora Bertha Lutz.

Não é novidade a desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres, nem que esse cenário seja a herança cruel de um modelo de sociedade patriarcal, onde o poder de decisão e o domínio dos ambientes familiares eram exclusivos dos homens. Nesse contexto, as mulheres eram rotuladas de “sexo frágil”, num modelo que ultrapassou os limites dos lares e avançou para os ambientes públicos, onde cabiam somente aos homens cargos e posições de dominância e liderança. As oportunidades de trabalho da mulher se restringiam às atividades de cuidado do lar e dos filhos, e diversas limitações eram impostas à sua formação intelectual.

Alguns direitos básicos foram, por muito tempo, concedidos apenas aos homens, como ler, escrever, estudar. Felizmente, de forma gradativa, as mulheres foram conquistando seu espaço, à medida que vários movimentos feministas ganharam força aqui e pelo mundo.

Atualmente, de maneira geral, as principais reivindicações do movimento feminista se referem a questões que afetam diretamente as mulheres. Entre essas questões está a desvalorização da mão de obra feminina no mercado de trabalho. Estudos recentes (IBGE, 2020) demonstram que as mulheres brasileiras recebem salários 30% menores que o dos homens, para exercerem as mesmas funções. 

Pode parecer estranho que hoje, em pleno século XXI, ainda tenhamos que discutir e lutar pelo direito de escolha da mulher de ter ou não filhos, usar ou não determinado tipo de roupa, ocupar o lugar que escolher e quiser, andar nas ruas com segurança, sem medo, em vez de, simplesmente, lutarem para se manter vivas. No entanto, essa ainda é uma batalha que está longe de ser vencida. Independente de classe social, cor, raça e orientação sexual em que se enquadre, esses são desafios enfrentados por toda mulher.

Vale ressaltar que, no contexto pandêmico atual, mais uma vez as mulheres foram bastante impactadas. A necessidade de mudança de hábitos e os efeitos do isolamento social afetaram diferentes esferas da sociedade, como a economia, a educação, o lazer e a cultura. No primeiro ano da pandemia do Coronavírus, as mulheres encabeçaram a lista de desocupação, quando comparado à taxa de homens sem atividade remunerada. Dados recentes (ONU, 2020) demonstram que houve um aumento significativo de casos de violência doméstica, em um contexto mundial, no ano de 2020, devido ao isolamento social. O número de feminicídio no Brasil atingiu a marca de 1.350 mortes no ano passado, sendo que 65% dessas mulheres eram negras.  

Diante de todos esses dados e informações apresentadas aqui, faço uma pergunta: você se considera feminista? Como explicou a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, “Você é feminista se reconhece que as mulheres ainda não são tratadas como iguais aos homens em todo o mundo e você é feminista se quer fazer algo para melhorar isso. Você pode mudar as mulheres o quanto quiser; se homens não mudarem, nada muda.” Espero que você seja uma pessoa a mais na luta pela equidade de direitos, assim como pela defesa da vida das mulheres, como cidadãs; como seres humanos!

Somos 52% da população brasileira, e a cada 12 segundos uma mulher é violentada; a cada 10 minutos uma mulher é estuprada; e a cada 90 minutos uma mulher é assassinada no Brasil. Enquanto você lia esse texto, um desses crimes contra a mulher foi cometido. E a pergunta é a seguinte: ATÉ QUANDO?

 



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Comentários

  1. Excelente sua explanação. De forma didática, não deixou dúvidas acerca desta real confusão que todos fazem dos termos.

    Sou sua fã. Vc é brilho só! 🤩👏👏👏🔆

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    1. Obrigada Ana!! Seguimos nos fortalecendo como mulheres feministas!

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  2. Maravilha de texto. Todos deveriam ter isso bem claro. Parabens minha querida.

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  3. Linda como Sempre Cacau...parabens pelo exemplo de mulher guerreira, determinada e excelente profissional...e respondendo a pergunta, SIM, EU SOU FEMINISTA!

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    1. Obrigada!!! SEguimos nos fortalecendo e sendo feministas, por todas nós!!

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  4. Parabéns Cláudia! Como precisamos trazer para o bojo da discussão temas tão urgentes como o proposto por você neste texto! Seu texto nos convida a um posicionamento, a uma reflexão e a tomar atitudes...

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  5. Obrigada Mirtes! Isso mesmo, precisamos trazer a tona temas importantes e urgentes como esse!! Beijos

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  6. Feminista sou, somos juntas minha querida! Esse tema é ótimo e muito necessário. Agradeço por trazê-lo pra todos nós. Abração e parabéns!
    Selma

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  7. Que espetáculo de texto, minha amiga. Nossa, achei muito esclarecedor. Luta que segue , agora mais do que nunca, com meu apoio á causa . Parabéns ! Silas

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  8. Eu gosto de ser mulher!(Assim iniciei um poema)E é verdade! Sou mulher que estudou,casou,separou, trabalhou fora, às vezes em dois colégios,criou dois filhos,com princípios e deles tenho orgulho! Sofri preconceito por ser "separada",em pleno ano de 1989,mas segui em frente...Tenho orgulho das minhas conquistas! Sinto-me vitoriosa!
    Feminista?! Para defender os direitos das mulheres!? Sim! O sentimento básico para as diferenças é Respeito! Eis o que basta para ver o próximo ou próxima com mais amor, aliás, o Amor está em falta, não?! Cláudia Guimarães Costa, admirável seu texto! Parabéns!Mônica Maria Granja Silva.

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