CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "O silêncio", Ana Maria Guerra Machado

O SILÊNCIO

ANA MARIA GUERRA MACHADO

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 8. Patrono: Benedito Machado Homem

 

E pelo smartphone recebi a mensagem me cobrando o texto desta quinta-feira. Desespero total! Olha que tem mais de um mês que penso, diariamente, quando acordo, que tenho que abrir esta tela em branco e enchê-la de palavras. Ideias vieram e ideias se foram. O tempo passou rápido, desde o dia em que fiquei sabendo que deveria enviar meu texto para meu amigo querido.

E fiquei pensando por que tive tanta dificuldade em escrever, desta vez... Cheguei à brilhante conclusão: silêncio! Nossa, como tenho sentido falta do silêncio. Tornou-se um artigo raro na minha vida, desde o início desta polêmica pandemia que se instaurou em nossos tempos. O dia amanhece com barulho e termina do mesmo jeito. A palavra “mãe’, gritada a cada cinco minutos, perdeu a poesia e a beleza carregada de lirismo dos poemas e mensagens melodiosas trazidas pela literatura ao longo da vida. Meu cérebro criou uma reação inebriante, quase alérgica! E o estado de alerta só se ameniza quando a casa dorme...

Hummm, o silêncio! Que delicioso prazer em sentir o poder desse estado de interiorização da alma, do pensamento, da meditação... seja qual for o nome que lhe dão aqueles que têm o prestígio de conviver com estes momentos de êxtase de ânimos calmos e de plenitude.

No silêncio é que eu me habito. É dentro deste mundo silencioso que mais gosto de ficar. É lá que me conheço, que me encontro. É meu espaço interno, que a cada dia fica mais distante de mim, enquanto cada vez mais me incorpora esse ambiente externo cheio de sons, ruídos, barulhos, vozes, imagens múltiplas, luzes, tal, tal, tal...

Estamos tão desconectados de nossas ilhas silenciosas que pouco se têm produzido a calma e a tranquilidade. Cada dia mais, surge quem se diz especialista na busca interior, quando o segredo é, em suma, conseguir breves momentos de silêncio e se deixar ficar, e encontrar a paz.

O silêncio não é inconstante como alguém barulhento, mas é implacável e equilibrado; cobra de nós, fundamentalmente, a desaprovação e o desprezo daquilo que não somos ou da imagem que criamos de nós mesmos e provoca um confronto interno, para gerar uma total renovação e para nos encontrarmos com a nossa melhor parte. E, principalmente: provoca a decisão para sermos aliados da nossa verdadeira essência.

E vejam que maravilha! Estou no silêncio. Neste exato momento, consigo ouvir o som da paz, dos meus pensamentos. Lá fora, o vento sopra forte e agita as folhas, e o som dos galhos, é agora que consigo ouvir com nitidez! Lá longe, muito longe, cachorros latem — mas isto não atrapalha minha capacidade de me escutar!

É isso! Vou enviar agora, ao meu amigo, o que prometi, para que ele possa, em seu próprio silêncio, aproveitar este instante e vivenciar a raríssima experiência de sentir a perfeita completude, na quietude de seu escritório.

Minha promessa foi cumprida. A tela está cheia de palavras, mas com uma única ideia: a ideia de que o silêncio é o melhor lugar do mundo e é lá que quero estar!





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Comentários

  1. No quase silêncio do meu quarto,ainda na caminha, saboreei seu texto,querida...Que suave sensação de paz! Tenho buscado ouvir mais,falar menos.Ouvir-me... Amei! Parabéns! Que encontremos a Paz nos silêncios e os amados no agitado mundo externo! Bjos!!!! Mônica Maria

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  2. Que haja mais momentos de silêncio pra você, para que possamos usufruir de palavras deliciosas como essas.👏🏻👏🏻👏🏻🌹
    Selma

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  3. Incrível seu texto, amiga!
    Nos perdemos em palavras,nos encontramos no silêncio...
    Glaura

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  4. Que o silêncio se faça mais presente em nossa vida. Para Ana!!

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  5. Comungamos a mesma necessidade, minha querida Ana, embora reconheça o meu privilégio de viver num lugar onde o silêncio é quase uma opção pessoal. Você quer, você tem. A gente sabe, em verdade, que o silêncio é uma escuta de todos os sons que dá vida á nossa alma e ouvi-los é imprescindível. Lindo texto, com a sua cara. Te amo! Silas Fonseca

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  6. Às vezes no silêncio da noite
    Eu fico imaginando nós dois
    Eu fico ali sonhando acordado
    Juntando o antes, o agora e o depois.
    PARABÉNS, minha querida amiga ANA Maria.
    Beijos do seu sempre amigo, FERRUGEM.

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  7. Aninha!!! Que delícia seu silêncio compartilhado! Seus pensamentos, sua “caneta”… sua luz!

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