CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "Um Quadro na Parede", poema de José Eustáquio Evangelista

UM QUADRO NA PAREDE

JOSÉ EUSTÁQUIO EVANGELISTA

Membro-fundador da Academia de Ciências e Letras de Sabará
Cadeira 28. Patrono: Carlos Drummond de Andrade

Paisagem da agonia, onde me faço presente,

em cada caso,

ouvindo fantasmas desesperados

inconformados com a beleza

do quadro vivido.

Busque-me, nostalgia incontida

e aperte-me no seu peito amargurado,

porque a casa do saber

já se fez cinzas

num momento macabro que arde,

mas quer continuar de pé,

sóbrio, altaneiro, a ocultar fantasmas

que não querem ir embora.

Vida eternizada que brota

de sentimentos revelados

com pinceladas de amor.

Aí dentro, a vida interminável se faz encantadora,

querendo rasgar o véu da fugacidade

que separa a mim de ti,

buscando o beijo do alento.

Enquanto isto, o coreto singelo e rústico

se reparte em círculo,

orquestrando carícias recatadas

para o belo que desponta

e é permanente.

Êxtase da alma que abriga

esse mundo de delícias e inocências,

sem barulhos a incomodar

o silêncio do amor.

A mão do artista conseguiu eternizar

o monumento estonteante da igreja.

Rita, a Santa, se compraz a observar

a Pedro, em momento único e imperecível.

A ganância foi vencida.

O instante histórico e poético é mantido e refletido

pela simbologia da pena

que ampara a preservação da fé e da cultura.

O desrespeito foi vencido.

A igreja matriz não quer cair pela prepotência,

Quer continuar de pé.

Já não é, oh quadro imorredouro,

uma página sem memória.

A alegria continua a adormecer

E acordar na Pedro II.

Homero sufocou a beleza, transformando

em escombros as torres que

apontavam para o céu pedindo clemência,

mas elas continuam aqui, intactas.

O artista perpetuou o momento.

Assim,  D. Cabral não conseguiu apagar, da memória

viva da cultura, a pintura plantada no eu lírico

onde o olhar do poeta dialoga com os movimentos

intensos da eternidade numa autorreflexão incontida...

Sopre sobre nós, oh! quadro, cheio de mistérios,

e encha meu inconsciente com seus versos de linhas

num contracenar permanente com o silêncio,

deixando nas faces o sopro eterno da felicidade...

O tempo não apagará jamais esses sonhos.

Sabará ainda sonha e, na moldura de sua história,

vive o poetar de tudo que o coração sente,

misturado à floração delirante

de seu doce lirismo enraizado no solo do tempo

e preso à alma da cidade

que insistentemente e... teimosamente...

vive.

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