CONTRIBUIÇÕES IMORTAIS: "Antropoceno", artigo de Cláudia Guimarães Costa
ANTROPOCENO
CLÁUDIA GUIMARÃES COSTA
Membro-fundador da Academia de Ciências
e Letras de Sabará
Cadeira 13. Patrono: Hélio Costa
Faz parte do nosso cotidiano, há
alguns anos, recebermos informações por meio de dados, vídeos, reportagens,
documentários, acerca dos efeitos das mudanças climáticas. Esse assunto permeia
nossa vida de diversas formas, para alguns de maneira direta e, para a maioria
das pessoas, de forma indireta.
Independentemente do tipo de
impacto gerado pelas alterações no clima sobre cada um de nós, existem fatores
não tão facilmente perceptíveis quanto, por exemplo, o fato de atualmente sentirmos
muito mais calor, frio, ou sermos vítimas de enchentes com mais frequência,
quando comparado a alguns anos atrás.
Antes de comentar a respeito
desses efeitos, queria voltar um pouco no tempo, mas não na nossa noção de
tempo medido de forma simples, ano, mês, dia, hora, minuto e segundo, e sim o
tempo geológico. Essa é uma medida de dimensão muito maior, e mais difícil de
imaginar:
Na cronologia geológica esse
tempo tem início com o “Big Bang”, e depois no surgimento do que seria o
planeta Terra, a lua, as primeiras formas de vida, os invertebrados, as
plantas, os vertebrados e finalmente o homem. A escala de tempo geológico possui
marcos que a dividem, baseados em grandes eventos, seja pelo surgimento de
algum organismo, pelas grandes mudanças geológicas — como o surgimento de
grandes cadeias de montanhas —; e, não menos importante, alguns marcos nessa
escala estão relacionados a grandes eventos de extinção em massa.
A escala geológica se divide em Éons,
Eras, Períodos, Épocas e Idades, sendo que sua duração pode variar de milhões a
bilhões de anos.
Para que nos situemos nessa
escala, a Terra tem aproximadamente 4,5 bilhões de anos e estamos no Éon
Fanerozóico, Era Cenozóica, Período Quaternário, Época Holoceno. Esse último
corresponde à época em que a civilização humana tomou forma, com o
desenvolvimento econômico e social.
A inclusão de uma nova época na
escala geológica, o Antropoceno — época da dominação humana —, vem sendo
sugerida há alguns anos, considerando os efeitos e o impacto causados pelas
atividades do homem sobre a natureza. Muitos
pesquisadores defendem que estamos vivendo um sexto evento de grande extinção
em massa; a Terra e seus habitantes já passaram por outros cinco, sendo a mais
conhecida pela população aquela que deu fim aos dinossauros.
Essas grandes extinções foram
causadas, principalmente, pelo efeito de alterações climáticas que, antes do
surgimento da espécie humana, eram comuns e oscilavam entre períodos de
aquecimento e resfriamento extremos. Entretanto, essas mudanças aconteciam de
forma lenta e gradual, podiam durar milhões de anos. A Era do Gelo, amplamente
conhecida devido ao filme homônimo, foi um desses eventos de alteração do
clima, do qual os homens primitivos saíram ilesos.
Nos últimos anos, apesar de na
escala de tempo geológico estarmos em um período de resfriamento, temos
percebido — em uma escala de tempo não geológico — um aumento na temperatura
média mundial em um intervalo de tempo muito curto. As consequências dessa
alteração são desastrosas, muitas já conhecidas e amplamente divulgadas, como o
derretimento do gelo nas calotas polares e o consequente aumento dos níveis dos
oceanos, mudança na intensidade de entrada de raios solares que afetam as
plantações, inviabilizando o cultivo de alimentos, e outras inúmeras implicações.
O intuito de descrever aqui essa
situação é justamente reforçar um risco maior e talvez mais silencioso que
corremos. Estamos vivendo uma pandemia como consequência da atividade humana e um
contato com um vírus altamente transmissível que pode ser letal. Já há alguns
anos temos vivenciado surtos de diversas doenças, febre amarela, dengue,
chikungunya, zika e outras que permaneciam mais restritas a ambientes
silvestres.
Vários cientistas têm alertado
que esta é uma das muitas pandemias que vivenciaremos. Podemos de fato passar
por elas de maneira diferente do que tem acontecido agora, mas uma coisa é
certa: vamos passar por situações como esta novamente se continuarmos a pensar
que nossas ações não têm consequências.
A inclusão do Antropoceno na
escala geológica não é uma homenagem à nossa espécie, é um marco vergonhoso na
nossa existência. Somos a espécie responsável por mais um evento de extinção em
massa na escala de tempo geológico, o primeiro causado por uma espécie que
habita o mesmo espaço daquelas que extinguiu.
Usando aqui a analogia de Carl
Sagan — imagine todo o tempo geológico como sendo um ano —: a nossa
chegada neste tempo aconteceu nos últimos minutos do dia 31 de dezembro, tendo
o “Big Bang” acontecido no extremo oposto anterior, lá no dia primeiro de
janeiro, e tendo as primeiras formas de vida surgido entre setembro e outubro.
Nesse contexto, que demonstra a imensidão do tempo geológico, podemos ter uma
noção do quanto somos nada nesse processo evolutivo — E somos um nada que tudo
destrói.
Caso você, assim como muitos de
nós, esteja sofrendo com as consequências dessa pandemia e sinta muito calor ou
reclame das chuvas torrenciais e constantes, pare para pensar onde você pode
ajudar a mudar esta realidade, pois você também é responsável por isso. Essa
nova medida de tempo geológico é a marca vergonhosa que nossa espécie deixa
como legado.
Acredite na Ciência, mude
hábitos, faça a sua parte. A mudança está nas nossas mãos. Comece
imediatamente!
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Bela reflexão! A mudança é urgente... é tarefa que cabe a todos nós!
ResponderExcluirMinha querida Cacau! Lindo e ao mesmo tempo alarmante texto!
ResponderExcluirImagino como se sente, uma minoria lutando desesperadamente para tentar convencer ao resto da humanidade da urgência em mudar seus hábitos hediondos! Parabéns!
Geraldo Sérgio Guimarães
"Mudar essa realidade"....cada um fazer sua parte....mesmo sendo como
ResponderExcluiro beija-flor e sua gota d'água para apagar o incêndio.
Celso Pyramo
Uma mudança que requer senso de responbilidade, difícil de se ver neste ciclo, mas muito necessária. Ótima refleão, ótimo ensinamento! 👏🏻👏🏻👏🏻🌹 Selma
ResponderExcluirQuerida, o início do seu texto foi uma verdadeira aula!!! Senti-me adolscente,na sala de aula,ouvindo e tentando decorar esses nomes difíceis ...as eras...mas é no final dele que nos toca...o que eu posso fazer para salvar nosso planeta,nossa gente da extinção!? Parabéns! Científica e espiritual,Cacau!!!! Bjos!!!
ResponderExcluiradolescente*Mônica Maria
ResponderExcluir"A mudança está nas nossas mãos", exatamente isso. Excelente texto, reflitamos.
ResponderExcluirSelma